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Ressignificando sonhos perdidos: Uma análise sobre o público 60 + a partir do olhar da educação

Produzido por Mateus Moreira, Murilo Mendes e Steffany Santos

Sonhos de infância

Palmira das Virgens Santos ou mais conhecida como Dona Mira, ficou surpresa quando foi convidada para essa entrevista. Segundo ela, dentro de todos os seus anos de vida, até aqui, ela nunca havia feito algo do tipo. Um pouco sem jeito e ainda com vergonha, aceitou o convite e se produziu para a gravação das falas.

Durante 15 dias, e apenas nesse período, ela relata ter frequentado a escola. Com memória muito boa, ela recorda que lá aprendeu o “B-A-BÁ” ou como conhecemos, o “abecedário”.  Ainda durante esse tempo Dona Mira nos faz recordar do ensino rigoroso dos professores, quando se usava o método da palmatória como castigo para as crianças. (Método que fere fisicamente e psicologicamente e não é aprovado pelos órgãos de ensino).

“Eu tinha 13 anos quando meu pai viajou e minha mãe disse: aproveita minha filha que nesses 15 dias tu vai estudar. Nesses 15 dias eu aprendi pouquinho, foi o ABC, depois o B-A-B-Á, aí fazíamos as cartinhas e eles reclamam comigo porque eu pintava de caneta, se borrava a tinta e eles batiam com palmatória”, disse. 

Desde pequena ela cresceu e morou na roça, para ela, não tem sequer uma lembrança fora desse contexto. “Eu cresci mesmo na roça, na minha fazenda, eu cresci, criei, e tô dessa idade, eu tô na minha fazenda, no cafundó dos Gerais. Eu perdi os meus pais, mas eu tô no mesmo lugarzinho deles”, disse.

Para sobreviver nas condições da época, os pais dela, com 16 filhos, precisavam de ajuda para o trabalho pesado da roça. Mira sendo uma das irmãs mais velhas, conta que ela era a cabeça da casa e suas obrigações eram cozinhar, limpar, ajudar a plantar com enxadas, facões, lavar roupas e muito mais.

Mesmo que seus pais tenham sido rigorosos, hoje, com lágrimas nos olhos, ela conta que sente muita saudade deles. “A vida não era fácil, criar 16 filhos, nós não podíamos estudar, então fomos trabalhar na roça para ajudar, não era fácil. Meus pais morreram novos, com 60 anos. Minha mãe com diabetes e meu pai com problema no coração”.

“Desde pequeninha, com 10 anos eu já cozinhava, plantava feijão na roça. Até hoje eu vivo no mesmo lugar. Acordo cedo, arrumo a casa, cuido das galinhas, dos bichos né, [uma pausa para lembrar] depois eu subo para a praça e vou encontrar com minhas amigas”.

Emocionada, Dona Mira se recorda da vida puxada na roça que lhe acarretou todos esses anos, deixando que o seu sonho de ser policial ficasse para trás.

“Tem horas que eu choro, eu queria estudar bem. Meu sonho era estudar pra eu ser policial, eu tinha vontade, Oh meu Deus, eu queria ser policial. Hoje, quando vejo os policiais, eu choro, porque eu tinha vontade. Pela idade minha eu não posso mais estudar, que a vista não dá, já estou nessa idade”.

Apesar de não conseguir realizar o próprio sonho, Palmira conta que tudo que ela não aprendeu, deu oportunidade para que todas as suas 6 filhas aprendessem. Por dar oportunidades para que toda a família corresse atrás dos estudos e dos próprios sonhos, atualmente todas têm estudos e conseguiram condições melhores que as dela.

“Eu não aprendi, mas dei estudo pras minhas filhas”. Dona Mira teve 7 filhas mulheres, todas criadas somente por ela. Todas as suas filhas também cresceram no mesmo lugar e na mesma casa em que ela cresceu. 

Na época de suas filhas as coisas estavam começando a melhorar, todavia ainda não havia energia e a maior parte do transporte no nordeste, naquela região, eram feitas em cavalos ou em burros. Como elas viviam na roça, bem no interior, as localidades que tinham supermercados e outros estabelecimentos ficavam longe. No Cafundó ainda era preciso buscar água nos riachos, tomar banho de galão e ir ao banheiro no meio do mato.

Ela conta que a felicidade dela é quando suas filhas vão visitá-la. “Eu fico muito feliz quando elas vão me ver, porque eu fico sozinha em casa”. Ela relata que a família é muito unida e que todos se unem para ajudar umas às outras. Quando adulta o sonho de explorar os lugares não foi possível. Sem leitura, ela conta que depende muito dos outros para lhe auxiliar nas saídas, hoje tudo que ela aprendeu foi ao longo da vida e com o incentivo das filhas.

O sonho dela era ser policial para viver viajando, conhecendo os lugares. Para ela sempre foi uma paixão e até hoje ela diz que chora com vontade de realizar, mas que pela idade, por falta de estudo, isso não foi possível. Numa forma de ressignificar os sonhos, atualmente seu maior desejo é terminar sua casa própria, erguida no mesmo quintal onde cresceu a vida toda. Aos pouquinhos ela constrói a casa e de época em época viaja para rever a família que mora em Goiânia. 

Além disso, apaixonada pelo cantor Leonardo um dia ela deseja conhecer o cantor que fez parte da sua vida desde pequena. Cheia de fé, ela se apega à graça de Deus para se conformar com as fases difíceis da vida. Mas, com o coração agradecido disse que segue feliz mesmo não realizando alguns sonhos.

COMO A SOCIEDADE TRATA OS IDOSOS ?

“Pela idade que a gente está, a gente quer carinho, (os idosos hoje é como menino) Tem que cuidar. Quando passa na televisão que uns ficam judiando dos idosos, eu choro quando vejo lá na Bahia. Eu mesmo gosto de carinho”, reafirmou.

Vivenciando o possível

Ataídes Felipe de Oliveira, hoje publicitário e com 65 anos de idade, conta um pouco da sua trajetória educacional, infância e percepções sobre o que já viveu. Iniciou os estudos aos 7 anos e relembra o quão deficiente era a educação no colégio estadual onde começou sua alfabetização: “não era um ensino bom”, destacou.

Na instituição onde iniciou os estudos, em Goianira, permaneceu até a 2ª série do primário (Atualmente o 3° ano do fundamental). Segundo o publicitário, reprovou várias vezes e tinha grande dificuldade em assimilar o conteúdo. Foi aí que se mudou para Goiânia, permitindo sua sequência educacional.

“Meus pais não conseguiam acompanhar meus estudos. Minha mãe era analfabeta e meu pai concluiu apenas a 3ª série do primário”, explica Ataídes ao falar sobre as dificuldades desse período e explicar sua mudança para Goiânia, onde teve auxílio da irmã mais velha.

Permanecer com os pais não era uma realidade, tanto Ataídes quantos os outros 10 irmãos, tiveram que trabalhar ainda adolescentes, o que necessariamente impactaria suas formações educacionais. Por muito tempo, vendeu bananas trazidas das próprias plantações na fazenda onde morava.

Foi em Goiânia que conseguiu concluir o ensino médio, iniciar um cursinho e prestar vestibular. Seu sonho era ser médico. No entanto, não conseguiu aprovação nas duas tentativas. Sua carreira profissional se iniciou então ao trabalhar em farmácia, junto ao seu cunhado em Goianira. Voltou para Goiânia mais uma vez e deu continuidade como balconista de farmácia, sendo gerente de uma grande rede na época.

Sua vida seguiu dentro dessa profissão até se casar e ter dois filhos. Foi aí que surgiu a oportunidade de trabalhar com publicidade, quando passou por agências de publicidade e permanece no ramo até hoje. Diante das possibilidades em aprender coisas novas, Ataídes destaca a importância de se adaptar às diversas tecnologias que vieram, segundo ele, para aprimorar todos os trabalhos. “O que aprendi lá atrás, ficou pra trás”, finaliza.

Além disso, o publicitário ressalta a importância do apoio dos pais, e embora não tenha tido o apoio técnico, o incentivo, carinho e presença são inspirações para aquilo que ele é hoje e tenta passar para os filhos.

Sonhos x Realidades

De Minas Gerais ao estado do Tocantins, regiões diferentes, porém com três pessoas sonhadoras e que batalharam na vida para o melhor de si e principalmente no quesito família. O estranhamento em ser abordado pelo neto em um dia ensolarado, na cidade de Goiânia, especificamente na Rua B6, Parque das Laranjeiras. Foi estranho por conta da entrevista ou um baque para falar de sonhos e vida, lembrando do passado, pais, dificuldades e memórias.

Para Enia e Terezinha, por coincidência, ambas antes da entrevista falaram: “nossa, mas assim, desprevenida, sem me arrumar, estou feia. Meu Deus, falar de sonhos e família, vou chorar.” Para Virgílio, totalmente diferente: “só isso que é para falar, tranquilo ou não né, já tenho 83 anos e não me lembro de tudo”. 

O que assemelha três pessoas totalmente diferentes nesse momento? Quando se fala a palavra família, é perceptivo que quando toca no assunto existem pausas, lembranças, reações que por dentro devem dizer muito mais do que as palavras para  fora,vontade de chorar, desabar, afinal os pais dos três entrevistados não estão mais vivos, esse tipo de lembrança não é fácil, ainda mais quando existe uma saudade de muito tempo. 

Enia Maria, com seus 72 anos, nascida em Araguari, Minas Gerais. Morando no Estado de Goiás desde os quatro anos de idade, especificamente na cidade de Goiandira. Veio com seus pais e seus cinco irmãos. Uma vinda motivada pelo trabalho de seu pai, Delfim Firmo, que faleceu no auge dos seus 99 anos de idade.

Enia morou na cidade de Goiandira até os 18 anos, quando se casou. Dito pela mesma que teve uma alfabetização muito bem feita, com professores muito bem preparados e com uma infância que não foi fácil porém proveitosa, com brincadeiras e principalmente estudos. Durante sua infância tinha o sonho de ser engenheira.

 “Meu sonho era ser engenheira, não sei o motivo, mas sempre gostei de matemática, meu desejo era engenharia, porém meu pai não aceitava em eu me tornar uma engenheira,ele não aceitava, foi muito difícil, era meu sonho, me doeu não ter este apoio, não deixavam eu sair da barra da saia deles.” 

Casou-se aos 18 anos e veio morar na cidade de Goiânia. Foi aprovada no primeiro concurso para o magistério e iniciou sua jornada na Pedagogia e aos 19 anos já dirigia uma escola que se chamava São José da Escócia. Fez Pedagogia, Enia cita que gostou muito, tanto que trabalhou dentro da educação, foi concursada, trabalhando tanto na Prefeitura de Goiânia, quanto no Estado de Goiás, ao todo foram 39 anos servindo como Pedagoga.

“Hoje estou aposentada e senti um pouco a saída, eu trabalhava nos três períodos do dia. Dentro deste meu  trabalho, pude criar meus três filhos, com esforço, mas valeu a pena. Tenho três filhos, oito netos e quatro bisnetos. O meu trabalho me deu uma oportunidade de conhecer vários países, por isso que dou muito valor a Pedagogia, com ela pude ter sonhos altos. Tenho muitas saudades dos meus pais, foram meu alicerce e pude passar os ensinamentos para os meus filhos. Sou feliz e com muita saúde e quero durar por muitos anos com a minha família”, finaliza. 

Continuamos a viagem agora para Porto Nacional, cidade localizada no Tocantins, onde nasceu Terezinha de Castro, 62 anos e que mora em Goiânia, dona de uma fábrica de roupas, fábrica que fica ao lado da sua casa, uma mulher forte, empoderada, de cunho firme em que luta por sua família e princípios, muito conhecida na região onde mora, sua casa sendo a primeira da rua e em frente ao famoso Bar do Kaditos, impossível não conhecer a “Terezinha”, mãe de duas filhas e que casou com seu primo de primeiro grau Frederico, ela brinca que literalmente ela sempre ficou em família, nunca conseguiu sair do laço, isso é comprovado: “Tenho como meu marido e companheiro, meu primo”.

A infância em uma família na roça, não ofuscou seus estudos e vontade de crescer, com grandes recordações e por incrível que pareça, temos uma coincidência entres as histórias, Terezinha tinha o sonho de se tornar professora, profissão em que Enia ocupou por 39 anos, porém o destino de Terezinha foi outro, onde está atuando até os dias atuais, o ramo do empreendedorismo:

“Quero ser e estou me tornando uma empresária de sucesso, sonhos que deixei para depois que meus filhos fossem criados. Uma empresária de sucesso, com mente aberta, evoluída e de ser uma grande empregadora, colaboradora na área social. Tornando uma pessoa especializada no que gosta, você pode ajudar muita gente.”  

Última parada em Diamantina, 296 quilômetros de Belo Horizonte e 879 quilômetros de Goiânia. O mineiro, Virgilio Lages Moreira, 82 anos, percorreu essa rota, há 58 anos e fez sua última parada em Goiânia. Pai de três filhas, casado há 42 anos e com 7 netos, o mesmo cita que seus sonhos de infância já estão tão longe, que já nem se lembra perfeitamente, porém cita o amor da família como seu principal sonho, um ensinamento de sempre passado por seus pais, o amor pela família, em que Virgilio cita que seja o primordial, uma fala que está com um pouco de dificuldade, pela idade e pelos problemas de saúde, porém isso é notório e o que deseja passar. Com ensino médio e fundamental completo, uma faculdade não finalizada, é um corretor de carros aposentado e hoje tem o objetivo de ficar e aproveitar ainda mais a família.

“Meu sonho atualmente é ter uma vida para minha família, dando a eles tudo o que recebo, muito amor e carinho, ser feliz com todos ele juntos (pausa na fala)… lutando contra as dificuldades na vida e que todos tenham seus sonhos realizados, dentro de uma vida saudável, amorosa e com a benção de Deus”, finaliza Virgílio.

Virgílio disse que o primordial para a sociedade, principalmente a atual, é uma simples palavra: AMOR.

Cenário social

Karla Oliveira, diretora da Secretaria, diz: “A Secretaria trabalha com denúncias, maus tratos, junto a uma equipe especializada. Existe uma assistente social que é responsável pelas aulas de violão e existem outras formas de lazer como passeios e viagens, além das unidades do Cras, nas quais são realizadas atividades específicas para quem gosta de fazer tapetes e danças, por exemplo. A Secretaria de Mobilidade doou um ônibus exclusivo para os passeios com os idosos.”

Desde o ano de 2020 o mundo vem passando por uma pandemia e os cuidados com os idosos foram redobrados para que as atividades não tivessem uma paralisação total, o uso da tecnologia ajudou: “Algo que teve um crescimento foi o uso de celulares, computadores, os idosos tiveram aulas de informática, para que pudessem aprender a mexer no celular.” O objetivo de uma maior inclusão social dos idosos é um dos princípios da Secretaria: “Um idoso é uma pessoa como todos nós, por isso desejamos incluir ao máximo na sociedade”, finaliza, Karla.

Sobre programas educativos, em lugares específicos ou mesmo nos meios de comunicação, para trabalhar a conscientização social acerca do processo de envelhecimento, a direção informou que dentro da secretaria o envelhecimento é tratado de forma verbal, através de palestras e conversas onde falam da importância do envelhecimento, do auto cuidado da aceitação desse processo e sobre os estudos dos idosos. Sobre a existência de alguma universidade aberta à terceira idade, foi citado que não existe nenhuma instituição com o ensino voltado ao idoso apesar de universidades públicas ou privadas os aceitarem como acadêmicos, “a prefeitura não tem projeto, mas é algo a se pensar”, comenta a diretora.

A reportagem entrou em contato com a direção da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social de Goiânia, entregando 7 perguntas que não foram totalmente esclarecidas.

Infográfico

A título de curiosidade, procuramos saber algumas infomações acerca da visão e relacionamento que alguns jovens estabelecem para com seus avós, sejam eles presentes ou mesmo falecidos. A questão geracional implica em mudanças no modo de se relacionar com os mais velhos e no próprio funcionamento da sociedade. Disponibilizamos um formulário onde 42 pessoas participaram, o que resultou nos seguintes dados:


Sobre o envelhecer – Entrevista com o psicólogo Paulo Veras

Cinco personagens, cinco histórias, cinco possibilidades de sonhos. Vivências particulares, mas que retratam um passado comum, onde construir uma vida sob os próprios desejos, se esbarrava em diferentes limites. Retratamos aqui um pouco do inicio da vida de Enia Maria, Terezinha de Castro, Virgílio Lages, Palmira Santos e Ataídes Felipe, a partir do que eles mesmos enxergam hoje ao lançar um olhar ao que já passou.

Nosso objetivo, para além de contar histórias, é reconectar pessoas às possibilidades contidas no presente, além da importância em vivenciar bem o único momento existente e avaliar as condições sociais que são extremamente importantes na qualidade de vida. Para isso, entrevistamos o psicólogo Paulo Veras, que falou acerca do processo de envelhecimento e suas demandas.

Laboratório de Notícias – Paulo, O envelhecimento nos dias de hoje está num cenário diferente, onde não há mais uma associação à invalidez ou decadência. Como a sociedade deve encarar esse processo, de modo a preparar o próprio envelhecimento e respeitar o processo daqueles que acompanhamos?

Paulo Veras:

O envelhecimento deve ser encarado por todos, inclusive por aqueles que já estão envelhecendo, como uma atitude natural, uma atitude do ciclo da vida. Antes de tudo é importante entender que envelhecer é um privilégio, porque aqueles que não envelheceram, provavelmente morreram jovens. Envelhecer hoje é um processo mais bem conduzido, elaborado, temos uma longevidade muito maior. Temos idosos muito mais saudáveis, que planejaram muito melhor a sua vida, participantes de esportes e tudo mais. A crise da velhice assusta. Vamos aí na sociedade uma busca desenfreada pelo não envelhecimento, ou seja, a gente vê aí uma relação conflituosa com essa fase da vida que é como uma outra qualquer.

Então é importante que a gente envelheça com saúde, encare essa fase da vida assim como outras que já vivemos, mas sobretudo que a gente encare isso de maneira muito natural, parte integrante do ciclo da vida. À medida que eu lido melhor com essa fase da vida da maneira como ela é, eu consigo lidar melhor com as questões que essa fase apresenta. O idoso terá com certeza uma perda progressiva da adaptação fisiológica, física, enfim, mas é preciso aprender a lidar com as questões do momento, assim como foi aprendido com a fase infantil, adolescente e adulta. Então, é mais importante ter uma relação mais saudável com o momento do que ver essa fase como um fim, uma dor. Envelhecer não é uma tragédia.

Laboratório de Notícias: De acordo com a OMS, saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental, social e não apenas a ausência de doença. O que é preciso considerar dentro desses aspectos para que os idosos tenham condições de avaliar sua qualidade de vida?

Você pode também ouvir a resposta abaixo neste áudio

Paulo Veras: – É importante a gente pensar na qualidade de vida do idoso, como algo a ser pensado a partir do ponto de vista “idade” mesmo, pois está ligada a fase de quantos anos eu completei, mas pensar na qualidade de vida como aspecto da velhice, pois ela é um estado. Então, eu posso, por exemplo, ainda jovem ter uma qualidade de vida ou questões na minha vida que estão ligadas a um estado de velhice, ela não está ligada, necessariamente, a quantos anos eu tenho. Agora, a qualidade de vida em qualquer época da vida é fundamental. Na idade avançada, é mais do que necessária, que nada mais é do que a busca por atos saudáveis, uma atividade física, uma alimentação equilibrada, uma mente que esteja constantemente estimulada às leituras, artes, processos culturais, dança, às relações sociais, enfim. E nesse ponto é importante pensar também que temos poucos lugares pensados a esse público, temos aí poucas academias, atividades recreativas, clubes que estejam voltados ao idoso.

A qualidade de vida desse idoso tem que estar associada a aspectos físicos e logicamente aos psicológicos. Então, o contato com outras pessoas, com a tecnologia, atividades que estejam logicamente associadas a sua capacidade de realização, questões que vão deixar esse idoso cada vez mais ativo e vivo, independente da idade que ele tenha. Agora, é importante pensar também que para se chegar nesse nível, é preciso que se tenha feito um planejamento.

Que horas que eu devo pensar na minha qualidade de vida para a minha fase avançada de vida? A resposta é agora. Quanto mais jovem eu estiver, mais chances eu tenho de planejar uma velhice saudável, com qualidade de vida. Pensar que o fato de eu estar velho, eu não estou doente. O fato de eu ter envelhecido, me priva de algumas coisas, mas me abre outras várias possibilidades que vão me dar qualidade de vida, qualidade essa necessária para que eu possa ter uma longevidade maior e com qualidade.

Laboratório de Notícias:Como a população idosa pode manter vivo os sonhos que ainda não conseguiram realizar? É possível sonhar na velhice?

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Paulo Veras: – Eu sempre digo que a maneira que nós temos de manter os nossos sonhos vivos, ainda que na velhice, é continuar sonhando. O tempo inteiro durante a nossa vida, nós temos a possibilidade de sonhar. É claro que esses sonhos mudam, porque as necessidades mudam, as metas mudam, os planos mudam. Mas é importante que que eu não pare de sonhar. Então, imagina-se que na idade mais avançada, o idoso já tenha conquistado uma série de coisas, já tenha educado sua família, já tenha se aposentado, já tenha percorrido uma carreira profissional, adquirido alguns bens e isso é maravilhoso. Mas isso não pode dar ao idoso a ideia de afirmar que não irá mais sonhar porque eu estou velho e não tenho mais condições.

Então, manter esse contato social vivo e essa mente estimulada, vai fazer com que esse idoso continue sonhando, planejando, fazendo meta, traçando objetivos, seja um objetivo mais simples, por exemplo, construir uma peça artesanal para vender ou doar para um neto, como também a possibilidade de viajar, de conhecer outros lugares, outros países, estados, porque não? Pode ser também o sonho ou meta de fazer um curso, estudar ou talvez desenvolver uma outra habilidade social, como também a meta de conhecer um parceiro, companheira, para dividir a vida. Essas amarras que o idoso muitas vezes deixa de ter, é muito mais por uma condição social do que necessariamente por um aspecto do idoso. Por isso a necessidade de ter relações sociais estabelecidas, ter uma família que o apoie, ter hábitos saudáveis, para que esses sonhos façam parte desse comportamento que o idoso tem dessa vida que ele ainda está cultivando.

Laboratório de Notícias: O que as pessoas idosas podem fazer para desenvolver uma boa saúde emocional?

Você pode também ouvir a resposta abaixo neste áudio

Paulo Veras: – A saúde mental do idoso é um aspecto que deve ser olhado com muito cuidado, com muita atenção por todos à sua volta. A gente precisa entender que o idoso também sofre de ansiedade, tristeza, pode se deprimir, possui o sentimento de ser excluído, de estar incomodando, de ter perdido a utilidade que ele tinha, ter perdido a vaidade que tinha, e sobretudo, a solidão, que é uma questão muito séria que o idoso enfrenta, podendo inclusive levá-lo ao suicídio, ou seja, o idoso também se suicida. Devemos ficar atentos aos sinais que esse idoso vai tendo. As vezes ele não tem nenhuma doença mas tem se afastado, se isolado, tido falta de vontade de produzir atividades que ele já fazia de maneira simples, mudanças de humor constantes, choros, incapacidade de se associar, são sinais que precisamos ficar atentos porque podem ser sinais de que a saúde mental desse idoso não anda bem. Então, algumas pequenas dicas são importantes para que ele possa manter a saúde emocional forte e com vitalidade.

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