Tempo de leitura: 15 min

O que faz o Badminton ou mesmo a Pescaria Esportiva não serem tão conhecidos no Brasil? Conheça as modalidades invisibilizadas no cenário nacional

Quando o assunto é esporte o que vem a sua mente ? A maioria das pessoas dirão, futebol, vôlei ou natação, não é mesmo? A verdade é que existem aproximadamente 391 esportes no mundo. E mesmo que os esportes individuais ou em equipe sejam considerados uma atividade física, somente 46 são reconhecidos na Olimpíadas. A história dos esportes começou há muito tempo atrás, lá na Grécia Antiga, e desde então o ser humano prática diferentes modalidades que vem surgindo ou se aprimorando com o passar do tempo.

É normal que em cada país um esporte se torne mais comum. Na américa do norte o hórquei de gelo é bastante conhecido. Já no hemisfério sul, o Brasil, por exemplo, é reconhecido mundialmente por ser o país do futebol. Apesar disso, existem atletas que se identificam com uma modalidade que pode ou não ser uma prática comum na sua região. É nesse momento também, que entendemos como os esportes influenciam as pessoas e como eles são vistos pela sociedade.

Para exemplificar melhor a prática de esportes poucos conhecidos, trouxemos alguns exemplos:

HÓQUEI SOBRE GRAMA

A seleção brasileira feminina de hóquei na grama foi convocada pela primeira vez em 2006.

Provavelmente você nunca ouviu falar ou assistiu esse jogo passar na televisão da sua casa. Isso acontece porque o hóquei sobre a grama é um jogo comum na Holanda. Sua origem oficial foi registrada na Inglaterra, durante o século XIX. Apesar de não ser muito conhecido no Brasil, essa modalidade é o único esporte coletivo a ter medalhistas femininas em todos os continentes.

Como se joga: Para jogar hóquei sobre grama é preciso 11 jogadores de cada lado, os atletas conduzem a bola com um taco de fibras, até o gol. Nessa modalidade a partida dura uma hora. A melhor jogadora do mundo, nesse esporte, é Ellen Hoog.

SQUASH

Supostamente o Squash teria surgido na Inglaterra durante o século XIX. A teoria relata que os presos ingleses jogavam uma bolinha (improvisada) contra a parede dentro da cela, como forma de praticar exercício ou apenas para passar tempo, e dessa forma surgiu o esporte. Mas outra teoria diz, que o Squash é uma derivação do tênis, já que atualmente esse esporte é jogado com uma raquete.

Como jogar: Squash é um esporte parecido com o tênis, porém ele é praticado em quadra fechada num espaço com demarcações específicas. Dá para jogar entre duas pessoas ou em duplas. É preciso usar raquetes, uma bola e ter um bom preparo físico, reflexos rápidos e precisos para ganhar. O objetivo do jogo é fazer com que o seu adversário não consiga rebater a bola dentro do campo solicitado. Por isso, o atleta precisa ter agilidade para bater na bola de maneira ofensiva e ainda se deslocar para o centro da quadra para rebater novamente.

Uma partida de Squash geralmente vale até 15 pontos. Podendo ser três ou cinco partidas. Apesar do squash ainda não ser um esporte Olímpico, ele está presente nos seguintes eventos:

  • Jogos Pan-Americanos;
  • Jogos Centro Americanos;
  • Jogos da Comunidade Britânica;
  • Jogos Asiáticos; Jogos Africanos;
  • Jogos Universitários Mundiais, entre outros.

Badminton em Goiás

Falar sobre determinados esportes nem sempre é fácil, afinal, muitas das vezes não obtemos informações necessárias, o que nos causa dúvidas e questionamentos sobre a não valorização. Podemos dar como exemplo o Badminton, esporte que pode ser praticado por dois ou quatro jogadores, que são divididos por uma rede, e cada equipe porta raquetes para utilizar como “peteca” com penas de ganso fixadas, o que faz com que o impacto, ao tocar nas raquetes, voem para o lado adversário. A modalidade se tornou competitiva no Brasil no de 1983.

Não se tem uma data precisa de quando a modalidade chegou no Estado de Goiás. Atualmente, são 80 atletas de  badminton e parabadminton federados em todo o estado.  Os  atletas goianos vem fazendo bonito nas competições nacionais. No mês de abril, entre os dias 22 e 24, aconteceu a terceira Copa Centro Norte de Badminton em Porto Nacional-TO. Com 15 atletas, a delegação goiana obteve ótimos resultados e voltaram para Goiânia com sete medalhas.

Apesar dos bons resultados em campeonatos, o Badminton no estado de Goiás ainda não tem total reconhecimento. O Presidente da Federação Goiana de Badminton, Everton Pontes, afirma que  por não ser um esporte culturalmente praticado no Brasil e passar por problemas financeiros, o esporte passa por dificuldades.

“Apesar do badminton ser o segundo esporte mais praticado no mundo, encontramos algumas dificuldades para o desenvolvimento do mesmo. O badminton não é um esporte culturalmente praticado no Brasil, mas vem ganhando vários praticantes nos últimos anos. Como a FEBAG não tem recursos financeiros para o desenvolvimento do badminton, parabadminton e airbadminton em Goiás, buscamos apoios da iniciativa privada e governamental necessários para que a modalidade seja uma das mais praticadas no Estado de Goiás. Não recebemos recursos financeiros de nenhuma esfera governamental, mas atualmente, a SEEL – Secretaria de Estado de Esporte e Lazer tem nos apoiado com transporte para os atletas, técnicos e dirigentes nos torneios nacionais e internacionais no Brasil, também tem disponibilizado os espaços para que a federação realize seus eventos, como: torneios, cursos, festivais e outros”, afirma Everton.

Cintia Barbosa – Atleta de Badminton

Cintia Barbosa da Silva, 15 anos, é uma das apostas da Federação Goiana, praticando o esporte há sete meses e tendo no currículo o lugar nos Jogos Estudantis e o 3º lugar na Copa Centro Norte, conta que conheceu o esporte na escola, e diz sobre as dificuldades enfrentadas: “Conheci o Badminton através da minha escola, logo tive muito interesse em praticar, porém existem muitas dificuldades e falta de apoio, sofremos com a falta de estrutura e materiais, o badminton é o único esporte que pratico, então gostaria de mais reconhecimento e apoio. O esporte deve ser mais valorizado pela mídia, quase não se vê transmissões na TV, eu mesma acompanho pelo Youtube”, finaliza a atleta.

Adrick dos Santos – Atleta de Parabadminton

No parabadminton, a realidade não é muito diferente. O atleta Adrick dos Santos, 21 anos, goiano e detentor de títulos como Campeonato Estadual, é vice-campeão brasileiro, 1º lugar nas duplas no Campeonato Brasileiro, e cita que além das dificuldades com o reconhecimento, tem que lidar com preconceito: “Conheci o badminton através de amigos e através do contato com o treinador via instagram. Já disputei campeonatos como Brasileiro, Goiano, Brasiliense, Internacional e o Universitário. Além das dificuldades do esporte como o fornecimento de material, uma quadra adequada e a divulgação, lido com  minha dificuldade motora e  com o preconceito de algumas pessoas. É difícil, porém me esforço e sei que vale a pena para obtenção de sucesso com os meus objetivos”, destaca Adrick.

Bruno Vilela – Pescaria Esportiva

Pescaria Esportiva

Outro esporte não muito habitual na vivência dos brasileiros é a pesca esportiva, talvez esteja um pouco mais do que o Badminton na mídia do público brasileiro, porém passa por dificuldades. Bruno Vilella, goiano de 21 anos, é praticante e disputa campeonatos da pesca esportiva no país. O jovem atleta já disputou diversos campeonatos como o Campeonato Goiano e Brasileiro de Pesqueiros, e obtém títulos como Campeonato Goiano de Pesca em caiaque, Campeonato Goiano de Pesca em pesqueiros, e o Torneio Juvenil de Pesca Esportiva em Iguapé – Ceará.

“Minha família sempre foi amante da pesca, então desde muito novo, os acompanhava nas viagens e aventuras, sempre muito animado e demonstrando o amor por esse esporte. E desde então, a paixão e desejo de aprimorar no esporte me persegue. Considero que as dificuldades mais encontradas atualmente são os valores dos equipamentos, e além disso, a diminuição das quantidades de peixes, advindas da pesca predatória”, cita Bruno.

Ao ser questionado sobre o que falta para a pesca esportiva crescer no Brasil, Bruno diz: “A pesca esportiva tem um potencial gigantesco no Brasil, devido à grande quantidade de rios, lagos, lagoas, e a gigantesca variedade de espécies de peixes! O Governo deve se posicionar em relação a isso, entendendo a importância dessa modalidade que vem crescendo muito, tanto com visões econômicas (o mercado da pesca movimenta muito dinheiro anualmente), como visando a preservação e conscientização acerca da preservação que a pesca esportiva pode proporcionar. A cobertura da mídia em eventos de Pesca esportiva é praticamente nula, sendo feita unicamente por canais de Pesca esportiva e redes sociais particulares”, finaliza o atleta.

Bolsa Atleta

No Brasil, existem inúmeros esportes, porém vivemos numa estrutura que direciona a atenção para o futebol, vôlei e natação. Ser atleta no Brasil não é fácil, até mesmo o Bolsa Atleta que é direito do esportista,  nos últimos anos, vem passando por redução, com quedas nos pagamentos em 17% no ciclo de 2017 e 2020.

O Bolsa Atleta é um programa criado em 2005 pelo Ministério Do Esporte que patrocina atletas e para-atletas brasileiros de alto rendimento nas disputas nacionais e internacionais. Existem seis categorias de bolsa para os atletas de alto nível: Atleta de Base, Estudantil, Nacional, Internacional, Olímpico/Paralímpico e Pódio. No site do Governo Federal, está exposto os valores que cada atleta recebe: Atleta de Base (R$ 370); Estudantil (R$ 370); Nacional (R$ 925); Internacional (R$ 1.850); Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100) e Pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil).

Neste mesmo site do Governo Federal, referente ao Bolsa Atleta, percebemos uma imagem curiosa: A principal foto do site é de Paulo André,muma das grandes promessas do atletismo brasileiro, que pelo fato de estar no reality show Big Brother Brasil, teve seu Bolsa Atleta cortado, gerando opiniões diversas sobre o assunto. Paulo André, ao sair do reality show, ficou sabendo do ocorrido e declarou: “Fiquei sabendo, mas bem superficial. Ainda não peguei, de fato, para entender. Não tem muito o que falar sobre isso, porque, se eles fizeram isso, é porque tinham uma expectativa”, afirmou.

O perfil do Blog do Torcedor, no instagram, fez uma análise do corte de sua bolsa. Confira:

O que faz do futebol o predileto dos brasileiros?

Embora dados levantados pela pesquisa Ibope Recupom 2021 indiquem apreço considerável aos esportes como Vela, Atletismo e Boxe, o futebol lidera a popularidade e o espaço na mídia aqui no Brasil. Essa informação ganhou relevância à pesquisa ano passado a partir dos últimos Jogos Olímpicos, em Tóquio.

Roberto da Matta, filósofo e antropólogo brasileiro, diz que o futebol é “um drama da vida social”, ao explicar sobre o fato de que aqui no Brasil, assim como o carnaval, se tratam de questões hierárquicas e estruturais da nossa sociedade. Desse modo, pensar o futebol por aqui, é falar da nossa identidade, pois reúne uma grande quantidade de pessoas num prol comum.

No Brasil, o interesse dos brasileiros pelo futebol está diretamente associado às regionalidades, que decorrem das diferentes torcidas à diversos clubes, que por sua vez, representam um pertencimento social, com suas especificidades. Não é a toa que vemos locutores esportivos, por diversas vezes, se referirem a torcidas como “nação”, o que denota uma comunidade reunida, uma certa familiaridade.

A predileção do brasileiro para com o esporte ultrapassa o consumo. De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo IBGE, em 2015, haviam 38,8 milhões de praticantes de esportes no país. Desse total, 15,3 milhões de pessoas ou 39,3%, disseram praticar o futebol especificamente. Outro dado relevante, é que 94,5% dos respondentes que jogam futebol são homens.

Um ponto de importante destaque é o fato das transmissões televisivas do futebol baterem recordes de audiência constantemente, é quase uma certeza. Quanto maior a audiência, maior visibilidade das marcas que se utilizam dos horários para fazer seus anúncios. Para além do esporte, há a discussão do futebol como mercadoria, o que, para alguns críticos, distancia da essência de sua prática, a notar pelas transações comerciais como um todo ao seu redor.

É uma relação que se retro-alimenta, é preciso ter audiência para gerar lucros. Quanto menor a visibilidade, menos patrocínios. Se não há exposição, possivelmente há menos dinheiro, o que faz com que dirigentes dos clubes invistam menos, deixando o esporte mais frágil, não despertando interesse, tanto por parte do público, quanto da própria mídia.

De fato, para além disso tudo, o futebol ocupa um importante papel social na vida dos brasileiros, é o caso do jogador Tiago Silva, goleiro sub-20 do Atlético goianiense, que vê no esporte, um ofício de vida. Sua trajetória com o esporte começou desde muito cedo. Aos 12 anos de idade, já saiu de casa para tentar o ingresso em clubes como o Cruzeiro e Atlético Mineiro. Passou por times como o Nacional em São Paulo e Vitória (BA). Sua paixão pelo futebol, assim como a cultura nacional já direciona, vem da infância, incentivado pelos pais.

Para Tiago, existem duas questões a serem vistas no que diz respeito a abordagem da mídia para com o futebol aqui no Brasil. De um lado, existe a visibilidade que o futebol e os atletas precisam. Do outro, o perigo em deixar o futebol como um espetáculo, sendo visto pelo grande dinheiro que pode vir disso. As vezes, a manipulação e exposição dos atletas pode não ser tão benéfica. No entanto, a divulgação é importante, até porque o futebol também não seria o que é hoje, não fosse a mídia.

Tiago Silva – Goleiro Sub20 do Atlético Goianiense

“Hoje eu vejo muita gente indo para o futebol por causa da mídia, as vezes não estão ali pela paixão não. Acredito que o futebol só chegou nesse patamar por estar enraizado na nossa cultura, mas o dinheiro pode distorcer isso”, destaca Tiago.

Embora veja como uma paixão nacional, o jogador Tiago entende que o brasileiro, de forma geral, não está tão empenhado no acompanhamento do esporte como antigamente. “Não é só assistir jogos e ir aos estádios, mas entender sua essência. Hoje o futebol também está muito elitizado, ingressos não são tão baratos e uma grande maioria não consegue assistir”, explica ao analisar um comportamento nacional diante do esporte.

Todavia, pensar o futebol dentro do contexto brasileiro, é também visualizar o desenvolvimento do país, de acordo com Ronaldo Helal, em seu livro “Passes e Impasses”. O autor define o esporte como uma possibilidade de unir culturas, raças, classes sociais, raças e credos, com o poder de quebrar simbolicamente a hierarquia cotidiana. Ronaldo define esse movimento como um tipo de ética presente em nosso país.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *