Tempo de leitura: 4 min
RICARDO RODRIGUES
Últimos posts por RICARDO RODRIGUES (exibir todos)

Depois de 9 anos fechado, o Museu do Ipiranga, localizado na cidade de São Paulo, reabre as suas portas para comemorar o bicentenário da Independência do Brasil. A reabertura ocorre após uma reforma no prédio, que na época estava com suas estruturas físicas comprometidas, e da restauração de todo o acervo. A reinauguração está marcada para o dia 7 de setembro, quando os brasileiros irão celebrar os duzentos anos do simbólico grito do Ipiranga, atribuído ao então D. Pedro I, príncipe herdeiro da coroa portuguesa, que se tornou o primeiro imperador do país.

A reforma deste importante museu, tanto para história geral do país quanto para a pesquisa, custou mais de 210 milhões de reais e contou com artistas especializados em restauração, pesquisadores e até mesmo um grupo de físicos da Universidade de São Paulo (USP). O novo projeto pretende despertar o interesse, além de atender as expectativas, de visitantes de todas as idades. O investimento é um ponto fora da curva e demonstra que talvez estejamos aprendendo que a preservação de nossa história passa pelo cuidado de nossos museus e símbolos.

Evento Importante

A data escolhida para a inauguração é propícia. Celebrar o 7 de setembro rememorando os percalços de nossa construção política, social e cultural a partir do contexto histórico demonstra uma preocupação com o resgate da nossa identidade atrelada à produção artística e memorial. Entretanto, foi necessário que a estrutura física do museu estivesse comprometida para que se percebesse a necessidade de uma intervenção e reforma. Alguns outros espaços não obtiveram a mesma sorte e essa percepção chegou tardiamente. Em 2021, um galpão da Cinemateca que abrigava um acervo que seria usado para contar a história do cinema brasileiro pegou fogo. Três anos antes  foi o Museu Nacional que ardeu em chamas destruindo quase todo o seu acervo histórico e científico. E em 2015 o Museu da Língua Portuguesa foi parcialmente destruído por um incêndio. O Museu do Ipiranga sai incólume, pelo menos por enquanto, em um país fadado a destruir sua memória e apagar a sua história. 

Uma história de golpes

Compreensível o descaso com os espaços que nos fazem recordar como fomos nos constituindo como nação. Afinal, deve gerar um certo desconforto, naqueles que estão no poder, olhar para o nosso passado e enxergar os rastros da nossa construção política. Este país independente construiu sua história em cima de sucessivos golpes. A Proclamação da República foi um golpe militar, a instituição do Estado Novo foi uma ditadura institucionalizada, assim como a Ditadura Militar que teve seu início mascarado por uma “intervenção” que sepultou a nossa democracia por mais de vinte anos.

Havia um presidente no meio do caminho

Não obstante, no ano passado, o presidente Jair Bolsonaro comemorou o dia da Independência do país com uma ameaça às instituições democráticas, ressuscitando mais uma vez o fantasma de uma intervenção das Forças Armadas. Aliás, o presidente ameaça a democracia do país desde que ocupou a cadeira do executivo. Neste período ele já incitou seus apoiadores contra o Supremo Tribunal Federal (STF), proferiu ameaças diretas aos ministros da Suprema Corte, convocou manifestações contrárias à Constituição e às vésperas das eleições presidenciais, Bolsonaro tem espalhado informações falsas para tentar persuadir o eleitorado e causar desconfianças a respeito do processo eleitoral brasileiro, comprovadamente seguro.

Um país independente

No país independente, outros fantasmas voltam para assombrar a população. A inflação em alta desvalorizou o real e diminuiu o poder de compra do brasileiro que retorna ao mapa da fome. Segundo relatório da Anistia Internacional, a violação aos direitos humanos sofreu um aumento no país durante a pandemia com o crescimento da desigualdade social e negligência que levou mais de 600 mil pessoas a óbito. Isso sem citar a violência doméstica e policial nos morros, discriminação sexual e racismo.

2 thoughts on “7 de setembro: o bicentenário de um ideário em construção”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *