A luta para salvar a abelha Uruçu Amarela da extinção

Embrapa lidera projeto de preservação para salvar abelha Uruçu Amarela do Cerrado da extinção iminente
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Fernando Dias

O Cerrado, considerado a savana mais rica em biodiversidade do mundo, abriga aproximadamente 320.000 espécies em sua fauna e flora e abrange cerca de 22% do território nacional. Porém, o bioma enfrenta uma devastação alarmante que já destruiu mais da metade da sua cobertura nativa. O desmatamento no Cerrado tem se acelerado nos últimos anos, principalmente devido à expansão agrícola, à pecuária e à urbanização. 

A conversão de vegetação nativa em terras agrícolas tem sido o principal motivo do desmatamento, que tem se acelerado desde 2019. Além disso, o uso indiscriminado de agrotóxicos também tem impactado o bioma. Em 2021, 680 mil hectares foram desmatados, no seguinte o número subiu para 815 mil hectares, um aumento de 20%.

O bioma enfrenta uma realidade alarmante, com 137 espécies ameaçadas de extinção, das quais a maioria são mamíferos, aves e alguns insetos. A situação evidencia um quadro de perda de biodiversidade em que cerca de 20% das espécies nativas e endêmicas já não encontram abrigo em áreas protegidas, enquanto pelo menos 137 espécies animais nativas desse bioma enfrentam o risco iminente de extinção. Nesse contexto, a Uruçu do Cerrado (Melipona rufiventris) emerge como um símbolo dessa crise, sendo uma espécie de abelha nativa sem ferrão sob risco iminente de desaparecimento. 

Imagem: PxHere

Um olhar sobre as abelhas brasileiras

No Brasil, quatro espécies de abelhas estão ameaçadas de extinção, de acordo com avaliação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Entre elas estão a Melipona scutellaris, presente principalmente no Norte e Nordeste; a Melipona capixaba, habitante de regiões montanhosas do Espírito Santo; a Partamona littoralis, da Mata Atlântica; e a própria uruçu amarela do Cerrado, também chamada de Melipona rufiventris.

As abelhas desempenham um papel crucial na sustentação da vida, sendo pilares fundamentais na polinização e produção de alimentos. Sua atuação é essencial na formação de frutos e sementes na agricultura, contribuindo diretamente para a diversidade alimentar e a segurança alimentar global. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), dos cem principais vegetais que servem de base alimentar do planeta, 71 dessas são polinizadas por abelhas, além disso, 75% das culturas agrícolas dependem de modo direto ou indireto de animais polinizadores.

Além de assegurar a produção de alimentos, as abelhas desempenham um papel ecológico crucial na manutenção dos ecossistemas naturais. Sua atuação na polinização não se limita apenas às culturas agrícolas, estendendo-se também à preservação da flora silvestre. A interdependência entre as abelhas e o ambiente natural é um elo vital para a biodiversidade, influenciando a saúde dos ecossistemas terrestres e promovendo a continuidade das cadeias alimentares em todos os níveis da vida selvagem.

Segundo a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, a contribuição dos polinizadores, sobretudo das abelhas, representa uma economia de até 10 bilhões de dólares, ou cerca de R$50 bilhões, anualmente para a agricultura brasileira. Esse valor adicional seria o custo adicional para a produção de alimentos caso esses insetos não desempenhassem seu papel.

Ações de preservação

O risco de extinção enfrentado pela Uruçu do Cerrado está ligado ao desmatamento, uso indiscriminado de produtos químicos e à retirada ilegal de mel das colmeias, ameaçando a sobrevivência dessas colônias vitais. No entanto, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia está liderando um esforço para salvar a abelha Uruçu Amarela do Cerrado da iminente extinção.

Desde dezembro de 2014, o Ministério do Meio Ambiente classificou a Uruçu Amarela do Cerrado como uma espécie em perigo de extinção, e uma portaria mais recente, emitida em junho de 2022, reforçou essa classificação, ressaltando a necessidade urgente de preservação.

O estudo em andamento pela Embrapa analisa os impactos do desmatamento e dos agrotóxicos na Uruçu Amarela e inclui análises genômicas e genéticas das populações da abelha. A pesquisa também aborda a movimentação indiscriminada e não regulamentada de ninhos por criadores de abelhas nativas, o que pode afetar a diversidade genética das populações naturais, levando à perda de adaptações vitais ao ambiente e aumentando o risco de extinção.

Para enfrentar esse desafio, a equipe liderada pela Embrapa está colaborando com meliponicultores, instituições parceiras e órgãos reguladores para coletar dados científicos sobre a Uruçu. Esses dados ajudarão a determinar o risco de extinção e estabelecer critérios para um plano de manejo sustentável, visando à conservação da Uruçu do Cerrado.

A campanha para salvar essa espécie envolve a conscientização dos meliponicultores, a coleta de abelhas em ninhos naturais e em criatórios. As abelhas coletadas são submetidas a análises genômicas e genéticas para embasar a criação de um plano eficaz de preservação.

Os esforços liderados pela Embrapa e seus colaboradores buscam compreender e lidar com as ameaças que afetam não apenas as abelhas, mas todo o ecossistema regional. Ao conservar uma espécie crucial para a polinização e a produção de alimentos, essas iniciativas podem proporcionar um modelo de preservação abrangente e sustentável, contribuindo não apenas para a preservação das abelhas, mas sim para a manutenção da biodiversidade do Cerrado como um todo.

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