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O Cerrado, considerado a savana mais rica em biodiversidade do mundo, abriga aproximadamente 320.000 espécies em sua fauna e flora e abrange cerca de 22% do território nacional. Porém, o bioma enfrenta uma devastação alarmante que já destruiu mais da metade da sua cobertura nativa. O desmatamento no Cerrado tem se acelerado nos últimos anos, principalmente devido à expansão agrícola, à pecuária e à urbanização.
A conversão de vegetação nativa em terras agrícolas tem sido o principal motivo do desmatamento, que tem se acelerado desde 2019. Além disso, o uso indiscriminado de agrotóxicos também tem impactado o bioma. Em 2021, 680 mil hectares foram desmatados, no seguinte o número subiu para 815 mil hectares, um aumento de 20%.
O bioma enfrenta uma realidade alarmante, com 137 espécies ameaçadas de extinção, das quais a maioria são mamíferos, aves e alguns insetos. A situação evidencia um quadro de perda de biodiversidade em que cerca de 20% das espécies nativas e endêmicas já não encontram abrigo em áreas protegidas, enquanto pelo menos 137 espécies animais nativas desse bioma enfrentam o risco iminente de extinção. Nesse contexto, a Uruçu do Cerrado (Melipona rufiventris) emerge como um símbolo dessa crise, sendo uma espécie de abelha nativa sem ferrão sob risco iminente de desaparecimento.
Um olhar sobre as abelhas brasileiras
No Brasil, quatro espécies de abelhas estão ameaçadas de extinção, de acordo com avaliação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Entre elas estão a Melipona scutellaris, presente principalmente no Norte e Nordeste; a Melipona capixaba, habitante de regiões montanhosas do Espírito Santo; a Partamona littoralis, da Mata Atlântica; e a própria uruçu amarela do Cerrado, também chamada de Melipona rufiventris.
As abelhas desempenham um papel crucial na sustentação da vida, sendo pilares fundamentais na polinização e produção de alimentos. Sua atuação é essencial na formação de frutos e sementes na agricultura, contribuindo diretamente para a diversidade alimentar e a segurança alimentar global. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), dos cem principais vegetais que servem de base alimentar do planeta, 71 dessas são polinizadas por abelhas, além disso, 75% das culturas agrícolas dependem de modo direto ou indireto de animais polinizadores.
Além de assegurar a produção de alimentos, as abelhas desempenham um papel ecológico crucial na manutenção dos ecossistemas naturais. Sua atuação na polinização não se limita apenas às culturas agrícolas, estendendo-se também à preservação da flora silvestre. A interdependência entre as abelhas e o ambiente natural é um elo vital para a biodiversidade, influenciando a saúde dos ecossistemas terrestres e promovendo a continuidade das cadeias alimentares em todos os níveis da vida selvagem.
Segundo a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, a contribuição dos polinizadores, sobretudo das abelhas, representa uma economia de até 10 bilhões de dólares, ou cerca de R$50 bilhões, anualmente para a agricultura brasileira. Esse valor adicional seria o custo adicional para a produção de alimentos caso esses insetos não desempenhassem seu papel.
Ações de preservação
O risco de extinção enfrentado pela Uruçu do Cerrado está ligado ao desmatamento, uso indiscriminado de produtos químicos e à retirada ilegal de mel das colmeias, ameaçando a sobrevivência dessas colônias vitais. No entanto, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia está liderando um esforço para salvar a abelha Uruçu Amarela do Cerrado da iminente extinção.
Desde dezembro de 2014, o Ministério do Meio Ambiente classificou a Uruçu Amarela do Cerrado como uma espécie em perigo de extinção, e uma portaria mais recente, emitida em junho de 2022, reforçou essa classificação, ressaltando a necessidade urgente de preservação.
O estudo em andamento pela Embrapa analisa os impactos do desmatamento e dos agrotóxicos na Uruçu Amarela e inclui análises genômicas e genéticas das populações da abelha. A pesquisa também aborda a movimentação indiscriminada e não regulamentada de ninhos por criadores de abelhas nativas, o que pode afetar a diversidade genética das populações naturais, levando à perda de adaptações vitais ao ambiente e aumentando o risco de extinção.
Para enfrentar esse desafio, a equipe liderada pela Embrapa está colaborando com meliponicultores, instituições parceiras e órgãos reguladores para coletar dados científicos sobre a Uruçu. Esses dados ajudarão a determinar o risco de extinção e estabelecer critérios para um plano de manejo sustentável, visando à conservação da Uruçu do Cerrado.
A campanha para salvar essa espécie envolve a conscientização dos meliponicultores, a coleta de abelhas em ninhos naturais e em criatórios. As abelhas coletadas são submetidas a análises genômicas e genéticas para embasar a criação de um plano eficaz de preservação.
Os esforços liderados pela Embrapa e seus colaboradores buscam compreender e lidar com as ameaças que afetam não apenas as abelhas, mas todo o ecossistema regional. Ao conservar uma espécie crucial para a polinização e a produção de alimentos, essas iniciativas podem proporcionar um modelo de preservação abrangente e sustentável, contribuindo não apenas para a preservação das abelhas, mas sim para a manutenção da biodiversidade do Cerrado como um todo.