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Segundo dados divulgados recentemente pela Secretaria de Saúde do Estado de Goiás, foi constatado um crescimento exponencial de mais de 37,5% nas doações de órgãos, em comparação com o mesmo período do ano passado. Assim, Goiás tem testemunhado uma evolução notável nos números de transplantes ao longo dos últimos anos.

Ilustração: Ana Luiza Ferreira

O processo de doação de órgãos inicia-se com uma análise minuciosa a partir do diagnóstico de morte encefálica, uma vez que apenas indivíduos que atendem a esse critério tornam-se aptos para a cessão. Após o diagnóstico, uma equipe especializada abordará as famílias de forma sensível e esclarecedora. Este momento visa não apenas a eficácia operacional do procedimento, mas também a garantia de que elas estejam totalmente informadas e adequadas em suas escolhas durante o momento delicado.

GOIÁS

Atualmente, todos os hospitais do Estado de Goiás, sejam eles públicos ou privados, possuem a capacidade de notificar casos de doações de órgãos para a Central de Transplantes. Nesse contexto, vale  ressaltar o papel crucial desempenhado por ela, que conta com três unidades estrategicamente distribuídas para abranger diferentes regiões. 

Katiuscia Freitas, gerente de Transplante do Estado de Goiás, fala sobre o funcionamento: “Hoje,  a Central tem três unidades que a gente chama de Organização de Procura de Órgãos. Nós dividimos o estado de Goiás em três partes e nossa equipe fica dentro do HUGO, do HUGOL e do HEANA, acompanhando os casos de morte encefálica”.

DESAFIOS 

No presente, a fila de espera de pessoas aguardando transplante no Brasil chega a quase 70 mil, conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde, um número bastante expressivo. Diante desse cenário, Katiuscia explica: “Qualquer pessoa que precise de um transplante será inserida pelo médico transplantador no Sistema Nacional de Transplantes, um sistema online. Lá, o médico vai colocar as características desse receptor: o tipo sanguíneo, idade e peso. Para órgãos, isso é fundamental na hora de gerar a compatibilidade”.

A gerente destaca ainda os desafios e mitos sobre a fila de transplantes. “Não adianta uma pessoa que está na fila de rim perguntar qual é a posição dela na lista de espera, porque isso não tem valor. O que tem valor é ela estar na lista. Tem gente que fica uma semana na lista, mas também tem gente que pode ficar dois anos. Então isso varia”, ressalta.

Rodrigo Lima, urologista no Hospital das Clínicas da UFG, reforça a escassez de doações e revela o cenário crescente no Brasil. “Pensando especificamente em transplante de rim, são 30 mil pessoas em hemodiálise no Brasil e conseguimos fazer em torno de 7 mil transplantes de rim por ano. Então, veja a defasagem importante que existe de doadores. A gente precisaria de um número 1,5 a 2 vezes maior para dar conta de todo mundo que está nessa lista de espera e conseguir ajudar mais pessoas”, reitera o médico.

Um dos motivos pelos quais a fila de espera é tão extensa está relacionado à recusa das famílias, uma vez que são elas quem decidem se vão ou não doar os órgãos. Infelizmente, em Goiás, a recusa das famílias chega a quase 70%. A saber, as razões para essa recusa são diversas, variando desde a falta de informação até o impacto emocional da perda iminente.

 Novamente, Rodrigo fala a respeito dessa recusa familiar e comenta sobre a decisão: “No Brasil, atualmente, é exigido que os familiares concordem com a doação. Mesmo que em vida a pessoa tenha manifestado interesse em doar, a decisão depois da morte é exclusiva da família”, pontua.

IMPORTÂNCIA 

O transplante de órgãos assume uma necessidade vital, proporcionando uma segunda chance para indivíduos que enfrentam problemas de saúde latentes. Desse modo, essa intervenção se revela como uma porta de esperança, oferecendo a oportunidade de uma vida renovada e a chance de superar desafios médicos que não poderiam ser possíveis de outra forma.

Katiuscia Freitas comenta a importância da ação: “A sensação da doação de órgãos hoje é uma forma da pessoa garantir que, mesmo após a vida, ela possa estar beneficiando algumas outras pessoas. Então, seria um ato de amor, é um ato de espontaneidade, então seria uma forma que a gente tem não só de ajudar outras pessoas, mas de estar perpetuando aquele desejo também que a pessoa inicialmente tinha”.

Por fim, a gerente prossegue revelando os planos para o futuro. O objetivo é intensificar a parte da sensibilização, do apoio da sociedade e das empresas públicas e privadas. “Nós temos o mês de setembro, que é um mês voltado para doação, quando a gente realiza várias atividades, intensifica essas campanhas. Mas a gente quer, por exemplo, fazer uma parceria com a Secretaria de Educação. Na qual podemos levar nas escolas essas palestras, considerando que é uma lei recente que prevê nem que seja trabalhada dentro das escolas”, conclui.

A dona de casa Michelle Luckesi, transplantada de fígado há 12 anos, conta sua experiência, que mudou o seu jeito de viver. “Depois do procedimento, eu comecei a enxergar a vida com outros olhos. Comecei a me cuidar mais, a me amar mais, e a me alimentar melhor. Pois em um dia você pode estar completamente saudável, já no outro dia possa ter que ir para uma fila sem saber se vai sair dela com vida”, expõe.

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