Os entraves das atléticas universitárias em conseguirem mover o esporte universitário

Ex-diretor da Tagarela, Atlética de Comunicação da UFG, detalha alguns desafios que as atléticas enfrentam para conseguir incentivar o esporte no meio universitário
jan 11, 2024 , ,
Tempo de leitura: 9 min

É aparente que desafios são impostos para todas atléticas universitárias que buscam organizar treinos para seus atletas rumo à preparação em campeonatos, às vezes algumas mais que outras dependendo de sua situação financeira. E sabendo disso, é curioso se pensar como funciona toda a organização e gestão dentro delas, e é justamente sobre isso que saberemos logo mais.

Em entrevista com ex-diretor esportivo e também antigo vice-presidente da Tagarela, Yago Gelabert, conseguimos enxergar mais a fundo como se dá toda essa organização e barreiras que são enfrentadas para que as atléticas consigam se destacar no meio universitário e incentivar o esporte.

Confraternização da Gestão Tagarela 2023 / Foto: @tagarelaufg

Lab Notícias: As atléticas costumam ter muitas dificuldades financeiras para conseguir organizar seus treinos? E em relação a organização do capital, como é feito?

Yago: Em relação à questão da dificuldade financeira, num aspecto geral, assim, eu acho que 98 ou 99% das atléticas não tem uma renda fixa. Ou seja, a gente não tem um fluxo de caixa mensal, que a gente vai receber um valor mensal. Como que nós buscamos essa organização do capital? A gente organiza festas ou ações, por exemplo, rifas, sorvetadas, algumas coisas assim, que possam trazer um possível lucro para nós. Coisas que demandam pouco investimento e tem um retorno um pouco maior. E, no caso das festas, não tão baixo o investimento, mas em tese o retorno compensa, um retorno alto. Todo esse dinheiro que a gente recolhe, todo esse dinheiro que a gente lucra, a gente reinveste nos esportes. A gente tem uma série de gastos para poder manter os treinos, independente de qual seja o esporte, porque a gente precisa de material, a gente precisa de uniforme, a gente precisa de treinador, a gente precisa de local, de quadra, de campo, de piscina, do que seja o esporte. Então a gente tem essa alta demanda de verba e a única maneira que a gente tem pra organizar é isso que eu falei, essa questão das ações e das festas. A outra possibilidade que a gente também trabalha, algumas atléticas conseguem fazer isso mais, é com patrocínio, a gente usa nossos uniformes, usa nossa marca, principalmente a Tagarela, tem uma marca muito forte no cenário externo, da Universidade, então a gente usa isso a nosso favor para se associar com outras marcas, buscando certos patrocínios. A gente pode trazer como exemplo o uniforme da Tagarelo desse ano, o uniforme esportivo, ele tem mais de duas, acho que são três marcas expostas no uniforme que a gente fez por troca de capital, para a gente receber um valor que foi investido nos esportes. Além disso também tem os associados, os atletas associados, que basicamente a gente cria um plano de sócios que tem alguns itens. É um plano com certos benefícios que o atleta ou o estudante do curso pertencente à atlética ou, sei lá, qualquer pessoa que tenha interesse nesses benefícios, pode assinar esse plano, e aí é um pagamento mensal, normalmente, de um valor, vamos supor, 30 a 40 reais normalmente em torno disso. E aí ele tem uma série de benefícios que ele vai poder usufruir durante o ano, seja nos treinos, seja nas festas, seja no momento de adquirir produtos da atlética. De uma maneira geral, ele consegue utilizar esse benefício, e aí faz sentido ele pagar esse plano mensal. Assim, a gente tem esse dinheiro, mas nem sempre esse plano é rentável, nem sempre ele é alto o suficiente. Então, muitas vezes, a gente tem que reformular ou até abrir mão do plano em alguns cenários financeiros mais críticos.

Lab Notícias: Existem muitos esportes que ficam à deriva e são subvalorizados?

Yago: Realmente tem. A gente não pode fechar os olhos pra isso. A gente sabe que os cinco esportes coletivos, eles tem mais foco, mais ênfase. Basquete, vôlei, handebol, futsal e society. Hoje são os cinco esportes que tem mais ênfase, é óbvio. Por quê? Porque é um esporte mais rentável, porque são várias pessoas. Caso o time tenha que arcar com custos, fica mais barato, né, obviamente. E também pela facilidade, porque hoje em dia, igual falei, a gente tem algumas dificuldades para poder manter a rotina de treino. Mas é mais fácil com esses esportes que são mais vistos. É mais difícil pra gente conseguir espaço de treino, por exemplo, pra um jogador de tênis de mesa, ou pra um atleta de atletismo, de natação, ou um atleta de xadrez, do que pra um atleta de futebol, um atleta de vôlei, um atleta de vôlei de areia, por exemplo, que já é uma coisa que Goiânia tem uma estrutura melhor para disponibilizar para nós. Então, a gente tem sim vários esportes, a tagarela em específico. Só tem um esporte que a gente não participa dentro do Inter, no Inter são 19 modalidades, a gente participa de 18. O único esporte que a gente não participa é rugby, nem no feminino, nem no masculino. E são, de fato, esportes. Existem esportes que são mais difíceis da gente conseguir treinar, da gente conseguir manter uma rotina, tanto é que a selecionamos esportes onde a gente é mais forte ou onde nós temos mais material humano, mais contingente para a gente focar os nossos investimentos e o resto nós tentamos buscar opções alternativas de treino, né? Por exemplo, vamos fazer um treino de tênis de mesa, a gente busca um prédio de algum atleta, de algum diretor que tenha uma mesa disponível para jogar, sinuca a gente procura bares que tenham mesas boas, com tacos bons e bolas boas também, que tenham uma estrutura boa para a gente poder realizar os treinos, porque, de fato, é muito diferente a realidade com os esportes que são mais vistos.

Lab Notícias: Você pode detalhar como é feita a preparação emocional dos atletas para os campeonatos?

Yago: Emocional dos atletas, cara, isso varia muito. Dentro do esporte universitário a gente tem uma gama muito diversificada de atletas. A gente tem um atleta que teve a experiência com o esporte antes, ou seja, ele foi atleta de base de algum esporte, ele fez aula de natação, fez aula de atletismo, jogava xadrez, praticava e-sport, ele já tem essa vivência com o esporte e tem atletas também que conhecem o esporte dentro da universidade. Então, a gente tem diversos fatores. Quando a gente pega um atleta que já é mais calejado, que já vem do esporte, que já teve essa vivência antes de entrar na universidade, é mais fácil lidar com o emocional deles, porque eles já vêm preparados para isso, entendeu? Eles já tem esse desenvolvimento pré-universidade, que ajuda muito, porque ele já está acostumado a lidar com a pressão, ele já está acostumado a lidar com a derrota, com a vitória, com a frustração, com o trabalho em equipe, ele já tem esse molde, ele já foi moldado como atleta. Então, facilita muito para a gente. Mas, eventualmente a gente também encontra atletas que não tiveram esse contato com o esporte, e que tem um psicológico mais fraco. Então, às vezes não sabe lidar com uma crítica, às vezes não sabe lidar com um puxão de orelhas do treinador, às vezes não sabe lidar com a pressão de jogar um Inter, por exemplo, que é um campeonato eliminatório, ou seja, você tem que jogar e ganhar, se você perder você está fora, isso aumenta muito a pressão, a pressão da torcida, da bateria, esse tipo de coisa aumenta muito a pressão no nível do atleta, então, às vezes eles podem sim ter um problema com a pressão, com esse emocional, e a gente tenta fortalecer, fortificar o atleta durante a preparação, durante os meses de preparação que a gente tem até os principais campeonatos. Mas nem sempre a gente consegue fazer isso, até porque isso demandaria outros fatores, por exemplo, ter a disponibilidade de um psicólogo, um psicólogo esportivo, que hoje muitos clubes no futebol profissional trabalham, muitos esportes trabalham com isso, e a gente não tem esse tipo de disponibilidade aqui, a gente não consegue trabalhar com um psicólogo, contratar um psicólogo, então, a gente tenta fazer do melhor que dá, quem tem mais experiência passa pra quem tem menos experiência, a gente cria um senso de família pro atleta entender que ali é a casa dele, que ele vai receber dura, mas é pelo meio maior, tá todo mundo buscando o mesmo objetivo. Então, precisa saber lidar melhor com essas críticas, com esses puxões de orelha, com essa pressão também, mas nem sempre o trabalho consegue ser 100% eficaz.

Lab Notícias: Na sua visão como ex-vice-presidente da tagarela, o que a universidade deveria fazer para valorizar e dar a devida importância para o esporte universitário?

Yago: Existem muitos pontos de contato onde as universidades poderiam sim ajudar bastante, as atléticas e o esporte universitário institucional, aquele que representa de fato a universidade. A universidade tem verbas e estrutura destinada para o esporte e que muitas vezes não é utilizado. Por exemplo, na UFG a gente tem um campão, um campo destinado para futebol de campo e para rugby e que não é utilizado. A equipe de futebol da UFG está parada, a gente só tem a equipe de futsal e que também é muito deixada de lado pela própria reitoria, pela própria organização da UFG. Muitas das vezes, vou trazer o exemplo do futsal que é um que eu participo, estou mais lá dentro, consigo falar com mais embasamento, muitas das vezes a gente participa de campeonatos de maneira totalmente arbitrária. A gente decide participar, a gente arca com os custos ou então a gente faz parceria com outras instituições para poder representar porque de fato a UFG não dá o verdadeiro apoio. A gente tem um centro de esportes no Samambaia, uma quadra poliesportiva que pode ser usada para tudo e acaba que é totalmente defasado. Existe uma academia e é totalmente mal informado, mal divulgado como faz para você poder utilizar essa academia, utilizar esse centro de esportes. Então eu acho que assim, a universidade poderia investir muito mais verba, trazer muito mais projetos esportivos para a vivência do estudante universitário e dar mais atenção também para as atléticas, entrar com verba para as atléticas, fazer um acompanhamento mais de perto para entender a realidade do atleta, para entender a realidade das atléticas e conseguir ajudar isso a fundo mesmo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *