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A região central da cidade de Goiânia foi o primeiro bairro a ser planejado na capital. Sendo o arquiteto Atílio Correira Lima a executar o projeto, suas obras deram início no ano de 1933 com as Avenidas Araguaia, Goiás e Tocantins. Mesmo com os principais pontos turísticos e históricos contruídos no estilo Art déco pertecentes a essa área, ela foi abandonada pelo poder público, ficando à mercê dos estragos e apagamentos que o tempo gera.
Com o acúmulo de projetos de revitalização até hoje não efetivados, se torna difícil acreditar que as metas apresentadas pelo prefeito Rogério Cruz na Estação Ferroviária sejam cumpridas. O objetivo central é tornar a região mais atrativa para novos moradores, bem como os já existentes. Para além, cabe ressaltar que é estimada a fomentação do comércio e da indústria local, desenvolvendo o empreendedorismo, arte, cultura, lazer e turismo, requalificando espaços mobiliários e combatendo a criminalidade urbana. Todas essas ambições irão permear pela preservação do meio ambiente e a valorização do patrimônio histórico-cultural do Centro.
Para entender melhor como irá funcionar esse projeto tão amplo, Ênio Pazini Figueiredo, engenheiro especialista em patologia e terapia das construções, que trabalha com avaliação, reparo e recuperação de estruturas de concreto, concedeu uma entrevista analisando alguns pontos apresentados. Com o histórico de reparação e avaliação de obras tombadas como o Trampolim e Mureta do Lago das Rosas, Palácio Pedro Ludovico Teixeira e obras não tombadas como o Estádio Serra Dourada, Ênio se mostra especialista em uma área tão cara para a história goianiense.
Para início, Ênio fala sobre o estilo arquitetônico Art déco e sua significação em Goiânia:
A nossa cidade tem, talvez, uma das maiores concentrações de edifícios Art decó do nosso país. […] Como Goiânia é uma cidade nova, em relação a outras capitais, ocorreu a decisão de utilizar este estilo lá no início de sua criação, porque é um estilo que representa modernidade e é um estilo progressista né? Então isso se adequou bastante a uma cidade ou uma capital que estava nascendo num local novo. E isso cresceu, acredito eu que cresceu com a cidade né? De ser uma cidade pujante, uma cidade progressista, uma cidade que atrai pessoas de todos os locais. E este estilo arquitetônico, que é um estilo francês né? Ele se adequou bastante a esta caracterização da nossa cidade. Então nós temos vários edifícios que vem desde o início da cidade.[…] Ali nessa região nós temos a Casa de Pedro Ludovico Teixeira toda em estilo Art déco, o Coreto, a Delegacia Fiscal, as Fontes Luminosas, o Fórum, o Museu Zoroastra Artiaga, o Obelisco, o Palácio do Governo, a Procuradoria-Geral do Estado, a Secretaria Geral, o Centro Cultural Marieta Teles Machado, o Tribunal Regional Eleitoral. Isso só naquela região da Praça Cívica. Um pouquinho mais afastado tem o Teatro Goiânia, o Liceu de Goiânia, a Estação Ferroviária, o Trampolim, que eu tive participação na revitalização, a Mureta do Lago das Rosas também. Eu vejo que é um conjunto de edifícios bem importante, que é tão importante que existe um tombamento nacional em relação a esse nosso acervo arquitetônico, no qual a gente deve se orgulhar. Entretanto, ao longo dos anos não vêm sendo mantido da forma como deveria.
O engenheiro também cita que deve ter a adequação da escolha de materiais contrutivos para com a cultura local. Em novos locais que estejam sendo construídos e formados agora, é cabível a utilização de estruturas modernas com vidros e linhas retas, aos moldes de Brasília, mas segundo ele, ambientes históricos devem favorecer e ter orgulho da estrutura que já apresentam.
Quando perguntado sobre a importância da revitalização do Setor Central, o engenheiro fala:
O Centro de Goiânia ainda apresenta muitas necessidades, mas o diferencial desse projeto talvez tenha sido o de chamar os moradores, as entidades que representam os moradores, os comerciantes, as indústrias locais para participarem. Ouvindo as pessoas mais interessadas, ali naquela região, acabaram que chegaram a esse Projeto Centraliza, que certamente trará melhor qualidade para os comerciantes, melhor qualidade para os moradores, melhor qualidade para as pequenas indústrias que existem, atraindo assim o turismo para aquela região que é tão carente né? Carente de soluções técnicas que tragam segurança para os transeuntes, as pessoas que vão ali fazer compras, pessoas que residem lá.[…] não é só manter os que estão ali, é fomentar, é atrair, dar atrativos para novos moradores, novos comerciantes, novas indústrias. Atrair o turismo, atrair as pessoas para o centro da cidade. E para isso tem que ter ações ações de curto prazo, ações de médio prazo e ações de longo prazo, que é o que o projeto contempla.
Algumas dessas ações de curto prazo é a realização de 80 novos pontos de ônibus, reestruturação das calçadas, meios fios, iluminação e a colocação de câmeras de segurança nessa região.
O Projeto Centraliza fala muito sobre atrair novos residentes para o Setor Central, mas não apresenta nenhuma meta a respeito das pessoas em situação de rua que o abrigam. Sobre isso, Ênio dá sua opinião:
[…] obviamente esse problema social é do nosso país né? Eu diria que não é só do nosso país, mas sim do mundo. Espera-se que esse projeto, pelo menos no que se refere àquela localidade, traga mais empregos, como aqueles que foram perdidos durante a pandemia. Também é esperado que se traga mais atividades sociais, culturais, e o projeto contempla isso com a preservação do meio ambiente. Então, o resultado é que pessoas e famílias tenham atividades culturais e sociais ali naquele local.[…] Agora o impacto que isso vai ter para as pessoas em situação de rua ou a pobreza da nossa cidade e da nossa região a gente só vai ver ao longo do tempo. Porque não é assim né? “Vamos retirar isso e jogar embaixo do tapete para ninguém ver” Não, isso tem que ser uma coisa sustentável. Tem que ter ações que gerem a melhora da qualidade de vida e que chegue até essas pessoas e isso é bem mais complexo.