‘Às vezes quem precisa da visita somos nós mesmos, é de humano para humano’: Entenda a importância do trabalho voluntário e suas diferentes faces

Saiba mais sobre o papel fundamental exercido pelo trabalho voluntário na busca por melhor qualidade de vida, para os outros e para si mesmo
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Para além do popular estereótipo de pessoas que se dedicam a trabalhar em Organizações não governamentais (ONGs) com intuito de ajudar uma população carente, o trabalho voluntário, amparado pela Lei 9608/1998, é definido como atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade.

O trabalho voluntariado deve possuir as seguintes características:

  • sem vínculo empregatício;
  • ser totalmente voluntário, não pode ser imposto nem exigido;
  • ser prestado para entidade governamental ou privada, sendo que estas devem ter fim não lucrativo e voltado para objetivos públicos.

Para simplificar, o trabalho voluntário possui diferentes faces e pode atuar em diferentes áreas, como assistência social, educação, saúde e proteção ambiental, transformando assim, comunidades pelo mundo. As atividades variam de lugares, oportunidades e duração, podendo ser eventos únicos, um período específico de tempo ou até mesmo envolvimento regular a longo prazo. Mas em todas as suas formas, o voluntariado busca promover o bem-estar social e construir conexões. Além de ajudar o próximo, as atividades também podem trazer realização pessoal e fortalecer o senso de responsabilidade social e empatia.

O sociólogo Gustavo Pinto, Doutor em Ciência Política e professor de Sociologia no Instituto Federal de Goiás, explica que o voluntariado pode ser pensado como uma ação pautada pela alteridade, ou seja, na compreensão do lugar do outro, do diferente e da mudança social causada pela associação entre pessoas e trabalhos sem finalidade capitalista.

Em uma perspectiva crítica, temos que compreender que as mudanças estruturais não ocorrerão mediante o trabalho voluntário, já que não significa nenhuma alteração profunda no quadro de desigualdades sociais e econômicas. Em contextos específicos, como desastres naturais, conflitos civis, situações específicas de pobreza, o trabalho voluntário tem um impacto positivo sobre a cidadania.

Gustavo ressalta que o trabalho voluntário pode ser considerado uma resposta- dentre várias outras, como os movimentos sociais, associações comunitárias e os próprios partidos políticos- para à falta de eficácia das instituições formais. Sendo ele uma das possibilidades de resistência às desigualdades sociais e uma resposta imediata para a solução de algo emergencial.

Uma pesquisa publicada pela Revista FACE da Universidade Federal de Minas Gerais, constatou que o voluntariado enfrenta desafios relacionados principalmente à escassez de recursos e a falta de capacitação e profissionalização da gestão desses trabalhos.

Para se inspirar

A história do Grupo Alegria começou por acidente. Fundado em 2011 por Robert Trajano– empresário, professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás e coordenador no curso de Medicina da Universidade de Rio Verde- está presente em 14 cidades dentro e fora do Brasil, sendo a matriz Goiânia com 350 membros e atuação em sete hospitais.

Na adolescência, Robert era muito tímido e recebeu a sugestão de começar a tocar violão para se soltar. Entretanto, na época, só conseguiu aprender a nota Dó e tocava uma música inteira apenas com ela: “Fácil”, Jota Quest. Após uma resenha frustrada com alguns colegas que o convidaram para tocar na reunião, mas o desprezaram por saber apenas uma música. Outro convite veio em seguida: uma amiga o chamou para acompanhá-la em uma visita a um hospital infantil e pediu para que levasse o violão. Por coincidência ou não, a música das apresentações só precisava da nota Dó.

A música era assim: “Saia, saia, saia, piaba! Saia da lagoa! Põe a mão na cabeça, outra na cintura, dá um remelexo no corpo e pega no nariz do outro!”. O refrão era o mesmo, só mudava no final: pega no nariz, dá um cutucão ou um abraço.

Robert conta que as crianças que antes estavam deitadas na maca, começaram a dançar e cantar junto com as enfermeiras como se fosse um show. Pulando, pegando no nariz do outro, cutucando ou dando um abraço.

Pensei: “Cara, que incrível!”. A música conecta as pessoas independentemente da idade. Uma das pacientes disse para a mãe que quando ela crescesse queria tocar tão bem quanto eu- mesmo sabendo só uma única nota- e foi quando percebi que eu era mais valorizado ali do que com os meus amigos.

A partir desse episódio que aconteceu em 2008, as visitas tornaram-se frequentes, até a fundação do seu próprio grupo anos mais tarde. Robert começou a dar palestras sobre o assunto e assim, atrair cada vez mais voluntários para o projeto. Sua primeira palestra na UFG ocorreu em 2017, a pedido de uma aluna de medicina, que foi integrante do Grupo Alegria. A partir dessa palestra, foi convidado para compor o corpo de docentes da Faculdade de Medicina da UFG, com o projeto Pronto Sorriso que é ofertado como uma disciplina de Núcleo Livre.

O projeto abre vagas todos os semestres em parceria com a Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina (IFMSA Brazil-UFG).

Robert também ressalta que o trabalho voluntário humaniza os integrantes, os médicos, conecta os acompanhantes aos pacientes, criando assim um vínculo de esperança e consequentemente ocasionando melhora no psicológico. “O paciente mostra fotos da família dele (que às vezes, ele não vê há muito tempo), você mostra fotos da sua família. Isso conecta vocês e traz esperança para ele querer rever os familiares, melhorando o psicológico e posteriormente, o físico. Muitos médicos não acreditam, mas se o psicológico não está bem, o físico adoece.”

 A palhaçoterapia provoca diminuição significativa do estresse e da ansiedade pré-operatória nos pacientes. Imagem: Isabella Mendes.

Seja voluntário

Pensando na tomada de iniciativa, o LabNotícias separou diversos projetos para você começar a voluntariar, de casa ou até mesmo do outro lado do mundo.

Grupo Alegria

Imagem: Instagram @grupoalegria/ Destaque: “como entrar?”

Worldpackers

É uma plataforma de viagens para voluntariado, que dispõe de uma comunidade global de voluntários e anfitriões com uma gama de causas para você escolher quais mais se identificar, dentre elas:

  • Cuidado com a natureza: trabalhar com agricultura familiar, plantio orgânico, reflorestamento, cuidado com animais e outros.
  • Ensino: Lecionar outro idioma em escolas ou comunidades, bem como ensinar outro esporte;
  • Hostels/pousadas: conhecer um lugar novo com hospedagem e alimentação inclusas, em troca de algumas horas de trabalho por dia no local, envolvendo atividades como limpeza, recepção, comunicação e marketing, cozinhar ou entreter os hospedes com eventos e dinâmicas.
@valeskanagringa

Codigo: VALESKAROSA @Worldpackers @Worldpackers Brasil

♬ som original – Valeska🌙

Projeto Tamar

O Programa de Capacitação em Pesquisa e Conservação das Tartarugas Marinhas recebe voluntários em diversas cidades pelo Brasil. É uma excelente oportunidade para estudantes, recém-formados ou interessados no assunto vivenciarem as bases de pesquisa e conservação e transformarem seus olhares sobre as tartarugas e a preservação ambiental.

Sem sair de casa

Doações Unicef

O Fundo das Nações Unidas para a Infância é responsável por fornecer recursos humanitários e de desenvolvimento para crianças em todo o mundo. O site disponibiliza um formulário de cadastro para doação de qualquer valor para ajudar na compra de alimentos e investimento na educação.

Compartir

A Compartir é uma plataforma que disponibiliza espaço para voluntariado com ideias e sugestões para as organizações. Para quem não pode contribuir financeiramente, é uma excelente opção sugerir ideias, iniciativas ou expressar opiniões.

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