Hipertrofia feminina: o preconceito e a superação 

Atletas de fisiculturismo sofrem diariamente o preconceito em relação ao seus corpos, pelo julgamento social de serem ‘masculinos demais’ e enfrentam os desafios para se destacar no esporte
Tempo de leitura: 4 min
Augusto Nunes

Os corpos femininos vem sendo julgados ao longo da história, com um ‘padrão’ definido por aqueles que julgam o certo ou errado, a sociedade. Gordas, magras, loira , morena, peitos grandes, peitos pequenos, coxas grossas, coxas finas, celulite, estria… tudo é analisado e julgado, por aqueles que pensam ter o direito de definir um tipo para o corpo de alguém. E agora, o grande julgamento vem de frente com a hipertrofia feminina, onde atletas de fisiculturismo, ou mesmo mulheres que gostam de se exercitar e atingir uma densa massa muscular, são definidas como ‘mulher-macho’, ‘homem com cabelo’, ‘voz grossa’… vários ataques e ofensas as mulheres que atingem a hipertrofia, julgadas pelo seus corpos. 

(Foto: Reprodução / Arquivo pessoal de Mayara de Moura)

A presença de corpos padrões

Ao longo da história, os corpos humanos sempre foram relacionados a padrões estéticos definidos por um grupo social. Estes padrões estão ligados com a cultura, estética e o aspecto social, variando amplamente de uma cultura para outra e mudando ao longo do tempo, refletindo padrões estéticos da sociedade. Gerando preconceito com os corpos fora desse ‘padrão’. 

O fisiculturismo 

O fisiculturismo começou a ganhar destaque no Brasil nas décadas de 1960 e 1970, principalmente com atletas como Sérgio Oliva e Arnold Schwarzenegger influenciando a popularidade do esporte no país. Já no feminino, o fisiculturismo feminino ganhou mais visibilidade no Brasil a partir da década de 1980, com atletas como Lenda Murray e Cory Everson inspirando mulheres a participarem do esporte. Desde então, o cenário do fisiculturismo feminino tem crescido no país. 

As redes sociais 

Atualmente, as redes sociais tem grande impacto nesse esporte, pois é nele que as atletas divulgam sua rotina, seus treinos e todo o preparo para subir nos palcos de uma competição profissional, com essa exposição de todo o trabalho vem junto as críticas em relação ao corpo de uma atleta, comentários com ofensas pesadas como : “que hétero vai querer namorar outro homem?” ou até mesmo “mulher musculosa é homem com cabelo longo” , a esmagadora maioria dos comentários e opiniões são nesse sentido, de difamação e preconceito.

A opinião de uma atleta 

Carla Galvão Bueno, atleta profissional de fisiculturismo, concedeu entrevista a Lab Notícias, perguntada sobre o o preconceito contra as mulheres de fisiculturismo, ela disse que as opiniões não são baseadas em nenhum conceito, apenas no puro preconceito: “Preconceito é uma opinião formulada sem a devida reflexão ou exame crítico. Geralmente desprovida de qualquer fundamento, essa opinião acaba influenciando modos de pensar e agir, Hoje às pessoas estão muito limitadas, então vai depender, porque eu não posso confrontar e se de repente diante das “situação ” elas podem se tornar agressivas. Então eu me retiro.”

Carla ainda mencionou que as críticas, em sua maioria, vem das próprias mulheres e demonstrou um sentimento de dó: “Fico com dó, porque elas não conseguem ou não querem entender o esporte e os benefícios.” 

(Foto: Reprodução / Arquivo pessoal de Carla Galvão)

Preconceito no trabalho 

Em novembro de 2019, a educadora física e fisiculturista, Mayara de Moura, de 25 anos, compartilhou um vídeo de biquíni em seu perfil do Instagram. Colegas de trabalho, encaminharam a publicação, de seu perfil pessoal e íntimo, para sua chefe do cartório em que trabalhava na época, em desabafo em suas redes sociais Mayara disse que foi comparada a uma atriz de filmes adultos pela sua chefe. “Ela me comparou a uma atriz pornô. Disse que era ‘melhor eu deletar o meu story’”.

A publicação foi feita com a intenção de conseguir patrocinadores, para ajudar a arcar com os custos financeiros da preparação para o campeonato de fisiculturismo, pois o investimento poderia passar dos R$2.000,00 para pagar pintura corporal, maquiagem, inscrições em concursos e deslocamento. Depois de sua estreia em Blumenau (SC) naquele fim de semana, a atleta amadora foi demitida do cartório em que trabalhava — mesmo tendo excluído a publicação. A demissão se deu por puro preconceito com a educadora física Mayara.

O preconceito existe, influenciando até em ambientes de trabalho, mas atletas e mulheres que se inspiram superam barreiras e preconceitos para que o esporte prevaleça e as mulheres ganhem mais espaço e respeito, é o que diz Iasmin Santos, mestre em Educação Física e treinadora de poses. “Os músculos causavam repulsa nas mulheres por ‘bater de frente’ com a feminilidade. Mas, sinto que o estranhamento está se transformando em um olhar de curiosidade.”

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