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A Praxedes nasceu em 2012, com o objetivo de oferecer peças práticas e versáteis. A loja traz em sua vitrine a elegância do estilo clássico, adaptado à vida da mulher contemporânea.
Em entrevista, Tatiane Praxedes do Nascimento, ou Tati Praxedes, comenta como descobriu a paixão por moda, sobre o processo de criação da marca que lançou aos 21 anos e outras curiosidades de seu estilo pessoal e empreendedor.
Rayane Novais: Na biografia do Instagram você se define “Goiana de alma francesa”. Por quê?
Tati Praxedes: Quando fui a Paris, me senti em casa. Foi como se eu conhecesse aquele lugar.
Quando descobriu a paixão por moda?
Na fase da pré-adolescência. Minha mãe é costureira e fazia minhas roupas. Aos 12 anos eu fiz os primeiros cortes de costura e entendi que gostava de moda.
Qual a sua formação?
Designer de moda. Comecei o curso na Universidade Estadual de Goiás (UEG), mas fiquei devendo algumas matérias, por isso meu diploma é pela Unicesumar.
Nesse caso, você parou o curso por um período?
Sim. A faculdade é em Trindade e eu moro em Aparecida de Goiânia. Enfrentei muitas dificuldades nesse período. O transporte era um desafio, 10 ônibus por dia.
Você pode comentar um pouquinho desses desafios?
Eram 02h15 de ônibus. Se perdesse o das 17h45, chegava atrasada e ainda passava medo, na época, o caminho do ponto até na faculdade era deserto. Em dias de muita chuva nem conseguia chegar, porque não dava para fazer o trajeto a pé. Era muito barro, destruía o material. Então esperava o próximo ônibus e voltava.
Não tinha outra opção de transporte?
Até tinha. Inclusive, fui de van durante um ano. Mas, apesar do curso ser gratuito eu precisava produzir minhas coleções e não dava para arcar com os dois.
Além do transporte, você se lembra de outra dificuldade que te marcou?
Eu ia com R$2,00 na bolsa. Meu lanche era um pacotinho de amendoim salgado que custava 0,60 centavos. Só comprava um porque geralmente estava com muita fome, e se comprasse dois, comeria os dois, aí não teria dinheiro para comer no dia seguinte.
Você se lembra de alguma crítica relacionada à escolha pelo curso de Moda?
Diziam que iria estudar para ser costureira, mas nunca me incomodou o que as pessoas pensam sobre mim.
Como surgiu a Praxedes?
Eu trabalhei 4 anos como secretária em uma loja na Vila Canaã. Mas era muito insatisfeita, por não fazer exatamente o que gostava! Então, usei o conhecimento que tinha, peguei o salário do mês, comprei tudo de tecido e lancei a marca.
O que te levou a essa decisão?
Quando chegava à igreja, na escola de música, as meninas viam minhas roupas e encomendavam. Então sempre tinha pedidos. Foi aí que surgiu a Praxedes.
Como foi o resultado desse investimento?
Fotografei as peças com minhas amigas no Parque Flamboyant, com uma câmera nada profissional, postei no facebook e esgotou tudo, rapidinho.
E ainda assim você continuou trabalhando como secretária?
Eu comprei mais tecido, investi novamente e quando percebi que ia dar certo, me dediquei 100% ao empreendimento.
Como foi o processo de reconhecimento da marca?
Bem natural. Não tive nenhuma dificuldade para emplacar a marca.
Como você criou a identidade das peças da Praxedes?
Isso acontece por meio de características que a gente define conscientemente ou não. Você coloca sua cara na marca! Minhas peças têm cintura marcada, cores tradicionais, estampas contidas, mangas delicadas, laço e bolso embutido nos vestidos.
Esse é o estilo da Tati?
Dez anos depois, meu estilo pessoal não é mais tão romântico ou delicado… Esse estilo, hoje, é da marca mesmo. Mas, quando lançado era exatamente eu!
Após emplacar a marca, qual foi o seu principal desafio?
Administrar. Porque a faculdade ensina criar a marca. Mas, não ensina administrar. Na parte financeira, separar o pessoal da marca. Inclusive após um ano de lançamento eu tive um prejuízo.
Você pode explicar como e por quê?
Vendi um carro e abri uma loja no Shopping da Estação, mas o estilo das peças não era para o público do local. Prejuízo de 20.000,00. Fechei a loja física e abri virtual.
Nessa carreira de empreendedora, o que você precisou aprender na prática?
Com o tempo entendi os meses que vende mais e os que vende menos. E me organizar pra isso, fazer liquidação com estoque parado. Atualmente, tenho uma contadora que cuida da parte burocrática. Administração eu faço.
O que seria essa administração?
Organização do dia e horário para atender os clientes, embalar, postar/despachar. E essa logística atualmente é bem mais organizada.
E hoje? Como você considera o resultado da loja virtual?
Muito bom. Tenho um número considerável de clientes… Em torno de 8.600 e-mails cadastrados e 1.600 clientes virtuais. Também vendo muito dentro de Goiânia e região.
Como foi administrar a Praxedes durante a pandemia?
Os primeiros meses foram de ansiedade e desespero, engordei 5 kg, passei a vender 30% do que vendia. Mas, com o passar do tempo, a gente vai acostumando. Lancei novas peças como macacões e calças e passei a vender mais aqui na região que na loja virtual.
Por que você demorou tanto para lançar peças como calças e macacões?
Não tinha muita experiência, levei um tempo para chegar a uma modelagem que me agradasse. Sou muito criteriosa com modelagem.
Hoje que a marca está consolidada, qual seu desafio diário?
Manter o engajamento, mostrar dia a dia, interagir com o público fazendo a publicidade na tendência que a rede social exige.
Em 2019, você fez um curso de moda em Paris. Qual era o propósito?
Passei dez dias em Paris. O curso falava sobre história e tendência de moda, entender o passado para prever o futuro, e teve duração de cinco dias.
Essa viagem já fazia parte dos seus projetos?
Desde que me interessei por moda Paris virou um sonho. Foram 14 anos sonhando. E dois anos antes eu precisei me esforçar muito, financeiramente, para conseguir realizar.
Qual foi a sua maior realização profissional?
A Praxedes ser selecionada para o ‘Paris City Fashion Week’, evento voltado para novos Designers. Normalmente acontece embaixo da torre Eiffel e ainda temos o direito de levar estoque para exposição de vendas no dia seguinte.
Como você soube que estava selecionada?
Eu li sobre a proposta do evento e me inscrevi. Poucos dias depois tive a resposta. Mas envolvia um custo de 3.000 EUR, por volta de R$15.000,00. E era duas semanas antes da minha sonhada viagem à Paris. Então não deu certo, mas o fato de ter sido aceita, já foi uma realização.
Como funciona o trabalho social entre a Praxedes e a comunidade local?
Os retalhos que seriam descartados são doados a senhoras costureiras que produzem colchas em patchwork, ecobags e tapetes. Alguns desses produtos são vendidos no site da Praxedes, mas não tem fins lucrativos para a loja, somente para a comunidade, o que fazemos é uma ponte entre essas senhoras e as clientes.
Como empreendedora você atua com a moda Slow fashion ou Fast fashion?
Slow fashion, porque é uma moda lenta e um movimento que tem se transformado num estilo de vida! Moda com consciência social e ambiental é a moda que eu acredito.
Você tem algum projeto futuro que envolve a marca?
Sim. Pode ser que venha uma nova marca, a qualquer momento, com uma pegada mais moderna e modelos mais ousados. É um plano que já está idealizado, esperando o momento certo para colocar em prática.
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