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Imagem: Taylor Nation
Em meio a uma turnê de sucesso mundial que celebra seus quase 20 anos de carreira, Taylor Swift lançou no dia sete de julho o Speak Now (Taylor’s Version), a regravação do seu terceiro álbum de estúdio lançado em 2010. A saga pelo resgate dos seus trabalhos começou em 2019, quando a cantora perdeu o direito sobre suas próprias músicas por questões contratuais com sua antiga gravadora. A partir daí, tentando recuperar a propriedade de seu trabalho, ela anunciou a regravação dos seus seis primeiros álbuns.
As regravações contam com todas as músicas originais e antigas composições que não entraram nas primeiras versões dos discos. Por isso, as novas canções são conhecidas como as From The Vault, do cofre, onde ficaram guardadas por todos esses anos. O Speak Now é um dos queridinhos dos fãs e havia muita expectativa sobre como seria o resultado de um disco country, composto e cantado por um garota de 18 anos, sendo reformulado por uma mulher de 32 anos que é a maior popstar da atualidade.
Encontro entre presente e passado
A passagem da adolescência para os primeiros anos da vida adulta é caracterizada pela intensidade das emoções, e isso é o que transmitem as letras do Speak Now (Taylor’s Version). Amor, paixão, insegurança, raiva, encantamento, são algumas das sensações que tomam conta das 22 músicas do álbum, sendo 16 delas regravações e seis novas composições inéditas, inclusive com participações de outros cantores, diferente do primeiro álbum que foi totalmente solo.
O conceito do disco é um pouco abstrato, talvez traduzindo a dificuldade de definir este momento específico da vida, que é, ao mesmo tempo, confuso e marcante. A indecisão sobre quais caminhos seguir, os corações partidos, refeitos e apaixonados, a perda da inocência e a complexidade da vida adulta são todos temas presentes no álbum, que vai de um tom mais sério, ao falar sobre um relacionamento tóxico, até uma pegada mais bem humorada e irônica ao narrar um plot de vingança para a garota que roubou seu namorado.
Olhando para as produções mais atuais de Taylor, é inegável o quanto suas letras são, naturalmente, mais maduras hoje e, mais ainda, o quanto do passado existem nas letras do Speak Now em vários aspectos. Além disso, o álbum marca uma transição importante na carreira da cantora, que começou no country e se consagrou como estrela da música pop, mas um outro estilo também deu as caras com mais intensidade desta vez.
Os contos do amor juvenil
A faixa Mine, um country pop animado com muita bateria, acordes de violão e guitarra, começa o álbum dando o tom da produção. Os vocais poderosos falam sobre o início do relacionamento de um jovem casal que não quer cometer os mesmos erros de seus pais. No geral, muitas letras falam sobre a dinâmica no romance entre duas pessoas que estão no início da vida e ainda tem medo de errar ou sofrem com a incapacidade de expressar seus sentimentos um ao outro.
Em Last Kiss, Sparks Fly, Enchanted e Speak Now (faixa-título que não se sustenta como nome do álbum), esse mesmo tópico é explorado em diferentes experiências, mas o tema fica muito repetitivo durante o álbum com tantas músicas que falam sobre relacionamentos românticos, por isso algumas delas, apesar de serem boas composições, tornam-se esquecíveis entre os plays. Em uma clássica batida country com direito ao acompanhamento do banjo por toda a canção, Mean é outro dos exemplares de excelência country que Taylor faz questão de mostrar que pode produzir mesmo transitando por tantos gêneros.
Não é segredo para ninguém que a cantora coloca muito de sua própria vida nas letras, muitas vezes quase como uma versão lírica de sua vida e pensamentos. Esse é o resultado de Dear John e Back To December. Nessas duas músicas, que estão as melhores do álbum e falam sobre dois lados da mesma moeda, Taylor canta um pedido de desculpas e um desabafo em relacionamentos que viveu com John Mayer e Taylor Lautner. Com metáforas sutis, essas duas baladas românticas são sinceras cartas de amor e desamor direto do coração de uma jovem adulta.
Por fim, com a mesma temática, Ours tem a infelicidade de figurar logo após uma das músicas mais queridas pelos fãs no álbum, além de repetir pela milésima vez a mesma temática, só que com um instrumental de violões misturados com sons de xilofone que juntos fazem uma cacofonia parecida com o background de jogos infantis. Em musicalidade e composição, ela não chega aos pés das outras músicas do disco.
Incursão no Pop rock e as figuras femininas
Apesar do Speak Now marcar a transição de Taylor Swift do country para o pop, ela se arrisca e entrega muito no pop rock em algumas faixas do álbum. The Story of Us e Haunted têm letras incisivas, com versos fortes que se intensificam com as guitarras, bateria e até um violino que eleva a dramaticidade. O assombro do abandono e a iminência do fim de uma história de amor são colocadas nas letras em refrões cantados a plenos pulmões.
Mas, sua canetada mais ousada no gênero é, com toda a certeza, Better Than Revenge. Na letra, acompanhada por uma guitarra pesada e distorções de voz que dão um ar mais grunge à música, Taylor fala sobre uma mulher devassa e obscena que rouba o seu namorado. Para o Taylor’s Version, a única mudança feita nas composições foi a alteração do refrão desta canção que dizia: “Ela não é uma santa, ela não é o que você pensa, ela é uma atriz, mais conhecida pelas coisas que faz no colchão”.
Na posição que ocupa hoje na indústria, tendo hits como The Man, You Need To Calm Down e Mad Woman, que falam sobre desigualdade de gênero, a nocividade da rivalidade feminina, e outros posicionamentos feministas, a mudança no verso caiu bem na regravação. Sabendo que a resistência dos fãs a qualquer mudança no disco poderia ser grande, Taylor pensou em um novo verso que tem muita similaridade sonora, em inglês, com o antigo. A nova versão é a seguinte: “Ele era uma mariposa em direção às chamas, ela estava segurando os fósforos”.
A faixa Superman, também é um exemplo do quanto o Speak Now carrega dos valores sociais da época em que foi lançado. Na letra, a garota exalta seu parceiro, um clássico cidadão de bem, que sai para o trabalho todos os dias e a mocinha que, orgulhosamente, o espera. Na época, esse tipo de composição podia até colar, mas hoje o público talvez nem conseguiria se identificar com essa letra, porque os ideais de relacionamento da juventude são outros.
O adicional nostálgico que emociona
As letras de Never Grow Up e Innocent, que falam sobre a chegada da vida adulta e o desejo de preservar um pouco da simplicidade e da inocência dentro de si, têm uma carga emocional ainda maior no contexto das regravações. Depois de 13 anos do lançamento das músicas, os fãs que provavelmente passavam pela adolescência naquela época, hoje são adultos que se relacionam ainda mais com o eu lírico que acaba de perceber que “tudo o que tem agora, um dia vai acabar” e que “era lindo quando você acreditava em tudo e todo mundo acreditava em você”.
Outra faixa que tem seu efeito potencializado pela passagem de tempo é Long Live. Com a base feita no violão e apoio da guitarra, a canção que virou um hino dos fãs, é como uma carta aberta da cantora aos swifties, fazendo referência ao caminho que percorreram juntos. Em muitos momentos, Taylor teve uma relação conflituosa com a mídia, atacada constantemente pelos tabloides. Olhar para trás e ver o fenômeno mundial que ela é hoje, depois de tudo o que aconteceu, eleva o significado dos versos que cantam vida longa ao laço entre a cantora e os fãs.
Long live all the mountains we moved
Long Live
I had the time of my life fighting dragons with you
Valeu a pena abrir o cofre
Finalmente, Taylor dá a senha do cofre e apresenta um dueto pop rock raiz sobre toques eletrizantes de paixão que são capazes de trazer alguém de volta à vida. O gostinho do seu potencial de produção no gênero foi aguçado ainda mais com a faixa Electric Touch, em colaboração com a banda de pop punk Fall Out Boy. O sucesso das faixas que mostram o lado punk da cantora é unânime entre o fandom, assim a oportunidade de entregar novos hits com a regravação não foi desperdiçada.
O primeiro single do Speak Now (Taylor’s Version) é I Can See You, mais um som pop rock de qualidade. Os baixos e guitarras que compõem o riff da música soam como o soft rock, que surgiu no início da década de 1970. A voz sussurrada traz um ar de segredo e confidência a um amor que acontece às escondidas. Por isso, para o clipe cheio de easter eggs, a temática de espionagem e resgate foi uma ótima sacada. Na produção, dirigida, escrita e estrelada pela cantora, é representado o resgate da nova versão do Speak Now que estava trancafiada em um cofre. Pegou a referência?
Diante dessas duas faixas mais ousadas, Foolish One e Timeless, que falam respectivamente sobre desilusões amorosas e um amor predestinado, ficam ofuscadas, principalmente porque não condizem com o amadurecimento que as faixas From The Vault mostram, apesar de serem boas canções. As duas poderiam facilmente fazer parte do Fearless, segundo álbum da cantora, por exemplo.
Para fechar, When Emma Falls In Love é um faixa que encanta pela simplicidade, iniciada apenas no piano, a letra é uma declaração de amor a uma amiga. É uma adição legal ao conceito do álbum, que no seu original tinha tantos excessos em relações românticas, mas faltou com uma letra que falasse sobre amizade. Já a parceria com Hayley Williams, vocalista do Paramore, intitulada Castles Crumbling é a canção mais vulnerável de todo o álbum, pois deixa de lado os parceiros e as rivais para falar de si.
They used to cheer when they saw my face
Castles Crumbling
Now, I fear I have fallen from grace
Com o pano de fundo de um reino medieval, a letra dá voz a uma heroína que antes era a esperança de seu povo, mas agora é desprezada e vê seu castelo desmoronar. A música parece ser envolta em uma névoa como a dos contos de fadas, que é construída pelas palavras e pela sonoridade dos ecos das vozes de Williams e Swift. A canção é claramente uma referência aos altos e baixos na carreira de Taylor e como isso afetou sua autoconfiança e sua relação com as pessoas ao seu redor, essa é a queda do seu castelo.
Supera o original
Muitos podem desacreditar do processo de regravação dos trabalhos de Taylor Swift, alegando que ninguém tem interesse em escutar as mesmas músicas que já foram lançadas anos atrás. Entretanto, a razão do sucesso das Taylor’s Versions é exatamente a oportunidade de refazer um trabalho antigo, com a oportunidade de contar com a opinião prévia dos fãs e com o próprio amadurecimento profissional e pessoal do artista, que contribui com a elevação dessa arte.
A nova versão do Speak Now é fiel à antiga, assim como deveria ser para não se tornar um trabalho totalmente novo e desassociado do original, mas foi refinado nos pontos mais críticos como a questão da visão enviesada das figuras femininas e a inclusão de outros temas que fogem à esfera romântica. É entre as From The Vault que é traduzido o resultado do que é o melhoramento do álbum.
Outro tremendo acerto é a volta das produções em pop rock que não eram vistas há muito tempo no catálogo da cantora. Prova disso é o single I Can See You, que está entre as 10 músicas mais escutadas do mundo, de acordo com a Billboard. Além de reacender uma antiga esperança dos fãs para um álbum inteiro de rock, o Speak Now (Taylor’s Version) também volta para evidenciar uma Taylor que hoje em dia já não existe mais e provar a sua evolução como mulher, cantora e compositora.