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Dirigido por Dan Gilroy e lançado em 2014, o filme O Abutre conta a trama de Louis Bloom como um jornalista criminal, que grava locais de crimes e acidentes para vender em jornais. À medida que o filme avança, vemos a forma que o personagem prioriza realizar filmagens violentas, invés da ética do jornalismo. O longa retrata muito bem a que ponto desumano as pessoas podem chegar pelo dinheiro, sobre como Louis consegue tratar crimes absurdos como algo comum e do cotidiano.

Na trama, é retratado uma realidade que acontece em programas e jornais brasileiros, como Chumbo Grosso e na Record TV. Não só esses, mas em qualquer rede social as pessoas podem ter contato com mídias sangrentas. A situação de precisar acessar a Deebweb para encontrar vídeos de pessoas decapitadas saiu de moda: agora você pode encontrar gore nas camadas superficiais da internet.

O texto “Se ‘sangue’ vende jornais, ‘sangrar’ vende muito mais”, de Leandro Marshall, explica que o ser humano perece ter paixão pela tragédia, que ver alguém se dando mal nos faz pensar que somos mais felizes que o outro que está passando por uma situação ruim. ” Os
 atos de insanidade (chacinas, traições, crueldades) revelam o quanto somos normais. A fome em bolsões de miséria (favelas, tribos ou centros urbanos) anuncia o quanto nosso salário mensal é maravilhoso. As derrotas (espetaculares ou prosaicas) revelam o quanto somos vitoriosos em nossa jornada mundana”, disse o autor.  

Marshall ainda destacou que quanto maior o número de mortes, maior a audiência. “Melhor do que a fotografia e a reportagem do sangue, apenas a exibição do ato de “sangrar” seja melhor para o negócio jornalístico”, dissertou o jornalista. As pessoas ficam vidradas na televisão em casos como da Eloá Cristina, onde a mídia o usava de entretenimento e os telespectadores assistiam como uma novela.

Claro, não podemos culpar unicamente o espectador por sua curiosidade ao brutal se quem o introduziu a isso foi a própria televisão. O sensacionalismo acompanha a TV desde seu surgimento, e o desespero por audiência fez com que vários programas entrassem em contato com o assassino de Eloá, por exemplo. Explorar a dor do outro e entrevistar familiares que perderam um ente querido de forma invasiva também é uma atividade cruel, mas que viraliza.

A sociedade falha na empatia ao procurar os vídeos de uma adolescente sendo torturada, mas a televisão falha ainda mais ao mostrar as cenas explícitas em canal aberto, manifestando que a situação acontece com tantas pessoas que agora é simplesmente banal. Ser exposto a esses tipos de conteúdo causam não só a perda de empatia, mas sintomas depressivos, pânico e ansiedade. A mídia não demonstra cuidado ao detalhar crimes, não parece haver respeito pelas vítimas, e a forma como os canais de notícia tratam o assunto ajudam a direcionar olhar da audiência, e o que deveria ter uma reação absurda para um assassinato violento, só faz as pessoas se questionarem se vão conseguir encontrar o vídeo deste crime no Telegram.

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