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Exibido em mais de 70 festivais e vencedor de dezenas de prêmios internacionais, Baby busca retratar a população marginalizada de São Paulo ao acompanhar Wellington (João Pedro Mariano), um jovem expulso de casa por sua família e recém-saído de um Centro de Detenção para menores infratores, que se vê perdido nas ruas da cidade e busca por um novo rumo.

O filme, dirigido por Marcelo Caetano, cineasta também responsável pelo longa Corpo Elétrico (2017), chegou aos cinemas brasileiros em janeiro e rapidamente conquistou o público, lotando diversas salas pelo país.

O nome Baby surge do apelido que Wellington recebe, durante uma visita a um cinema com foco em produções pornográficas, ao conhecer Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa experiente que o acolhe e o introduz sobre a realidade da vida nas ruas como forma de sobrevivência. Entre a proteção e a exploração, o relacionamento entre os dois se desenvolve de forma intensa e ambígua, oscilando entre a cumplicidade e o ciúme.

O elenco conta ainda com Bruna Linzmeyer, Luiz Bertazzo e Ana Flavia Cavalcanti, que ajudam a compor um cenário urbano vibrante, refletindo as contradições e desafios enfrentados pela comunidade que vive à margem da sociedade.

Assista ao trailer de ‘Baby’:

Um dos maiores acertos de Baby está em sua construção visual. Ao contrário da estética sombria frequentemente associada a histórias de marginalização, o filme aposta em tons vibrantes e coloridos, criando um contraste entre a dureza da realidade e a busca por alegria e identidade. Essa escolha estilística contribui para reforçar a temática da ressocialização, mostrando que mesmo nos espaços mais hostis ainda há espaço para afeto e expressão.

A trilha sonora, assinada por Bruno Prado e Caê Rolfsen, desempenha um papel fundamental na imersão do espectador. Destaque para “Foi Mal“, sucesso da cantora Urias, que sintetiza os sentimentos de dor, luta e resiliência da comunidade LGBTQIA+. A música não apenas complementa a narrativa, mas também reforça o tom de urgência e autenticidade do longa.

O Omelete, site especializado em críticas de filmes e séries, descreve Baby como um filme mais maduro e contido de Marcelo Caetano, em contraste com a energia vibrante de Corpo Elétrico . A crítica destaca a abordagem sensível da marginalidade em São Paulo, além de elogiar o amadurecimento do cineasta no seu segundo longa-metragem.

Representatividade Negra

A presença significativa de atores negros no elenco é um dos pontos altos do filme. Ricardo Teodoro, que interpreta Ronaldo, foi reconhecido com o Colón de Prata de Melhor Ator Coadjuvante, o prêmio de Ator Revelação no Festival de Cannes 2024 e Melhor Atuação no Festival de Lima, no Peru.

Além disso, Baby mergulha na cultura queer paulistana, trazendo à tela os bailes de vogue e representações das técnicas de fitagem — um método de finalização dos cabelos crespos e cacheados da comunidade negra.

Trabalho sexual

Mais do que um melodrama sobre juventude, Baby propõe uma reflexão sobre o trabalho sexual como um caminho forçado para muitos jovens LGBTQIA+ expulsos de suas casas. O filme denuncia a homofobia estrutural que empurra esses adolescentes para as ruas, tornando-os vulneráveis à exploração, violência e cafetões que lucram em cima de seus corpos.

Diferente de narrativas romantizadas ou moralistas, Marcelo Caetano aborda a questão com crueza e empatia, deixando claro que, para muitos, essa não é uma escolha, mas uma necessidade imposta por um sistema que falha em protegê-los.

O desfecho do filme é sensível e tocante com a jornada de Wellington, um protagonista que personifica a luta diária pelo pertencimento e pela dignidade. Com uma abordagem impactante, Baby reafirma o talento de Marcelo Caetano.

Mais do que um filme, Baby é um documento social, um retrato da sociedade que invisibiliza milhares de jovens. Entretanto, mesmo com sua relevância e reconhecimento internacional, a produção não conseguiu entrar no circuito comercial das grandes capitais brasileiras, evidenciando os desafios de distribuição que o cinema independente nacional ainda enfrenta.

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