Paulo Henrique Santos tem 39 anos, formou-se em jornalismo na Universidade Federal de Goiás, hoje trabalha como repórter de jornalismo diário da Rede Record de Goiânia
Como você começou no meio do jornalismo?
Eu cursei jornalismo na Universidade Federal de Goiás, formei em 2007, a partir disso, eu comecei com a rotina acadêmica na faculdade de jornalismo, fiz estágio na TV Serra Dourada, que é afiliada do SBT aqui em Goiânia, por conta de um convênio da faculdade com a emissora, fiquei quase um ano de estágio, depois fui contratado como produtor, editor, por fim virei repórter. Vim para para TV Record em 2010, já são 15 anos trabalhando na na TV Record Goiás e desde 2021 eu sou repórter de rede, produzo para o Jornal da Record e para o Domingo Espetacular.
Pelo que você contou, em toda a sua trajetória, trabalhou na televisão, gostaria de saber se esse sempre foi um desejo, se você sempre quis isso.
Não, não foi. O meu objetivo inicial era trabalhar com o Jornal Impresso, aconteceu que durante a faculdade, né, durante a disciplina do estágio, a gente não escolhia onde a gente iria estagiar. Era uma tipo uma espécie de ranking e aí quando chegava da sua vez, você ia para aquela vaga de estágio que estava disponível não tinha nenhuma vaga de impresso disponível na época e eu peguei a vaga de estágio em televisão desde então nunca mais saí. Gostei demais, me identifiquei muito com a rotina, com trabalho, com a dinâmica. Não era algo que eu imaginava, mas algo que me encantou e que me encanta desde então. São quase 20 anos, desde que eu iniciei minha carreira profissional, sempre em televisão, sempre cobrindo hard news. E um outro fator também que foi determinante para para eu acabar, né, trabalhando em televisão, foi que durante a faculdade eu desenvolvi um roteiro de um documentário com um amigo, um colega de faculdade, a gente desenvolveu um um roteiro de um documentário sobre poluição visual no Centro de Goiânia, a gente fez esse roteiro de forma bem despretensiosa, a gente escreveu esse roteiro no concurso de roteiro da Prefeitura de Goiânia, nosso roteiro foi selecionado, a gente recebeu uma verba, fez o filme e fomos selecionados para vários festivais, ganhamos o FICA de melhor filme goiano, então assim, isso tudo com 19 e 20 anos. Também foi muito importante para que minha, minha, minha carreira fosse direcionada para o audiovisual, porque nós éramos totalmente sem experiência e aí a gente participou de todas as etapas de produção, captação, roteirização, edição, então a gente desenvolveu esse documentário que no Festival de Arte ficou muito bem sucedido, deu muitos prêmios e me abriu muitas portas. A partir disso, minha vida foi toda direcionada para o audiovisual e curiosamente meu amigo que sempre teve vontade de lidar com audiovisual, acabou indo para o impresso. Hoje ele é colunista do Jornal O Popular e a carreira dele sempre foi pautada pelo impresso.
Tem como você contar um pouco mais sobre esse documentário?
É um documentário sobre poluição visual no centro de Goiânia, sobre a a perspectiva do que se esconde por trás da das fachadas, é um documentário que se chama Além dos outdoors. A gente fez um trabalho de pesquisa muito muito intenso ali no centro, a gente andou aquele centro da cidade a pé durante vários dias para escolher locações, achar personagens, né, achar pessoas que poderiam gravar com a gente, foi muito bacana, a gente não tinha nenhuma experiência nessa área. Foi um documentário até meio experimental, porque não não tinha narrador, a história era toda contada com trilha sonora e os depoimentos dos entrevistados e imagens, imagens bem recortadas. Uma mensagem que acho muito importante porque é um documentário até muito atual, porque 20 anos praticamente se passaram e praticamente nada foi feito, os projetos que já existiam na época, até hoje, pouquíssima coisa saiu do papel.
Além desse documentário que você fez, você gravou algum outro?
logo depois do documentário eu comecei a trabalhar, Fui contratado, eu saí do estágio, comecei a trabalhar na emissora, comecei a produzir meus pequenos documentários diários, que são as minhas matérias, nunca mais tive tempo de fazer algo novo é algo que eu pretendo ainda voltar, tenho algumas ideias, mas atualmente eu não não tenho tempo para isso. Eu foco nas minhas matérias.
Nessas produções que você faz para tanto as diárias como as semanais, teve alguma que em algum momento você já teve alguma dificuldade com por exemplo, um não liberarem alguma, uma dificuldade com a linha editorial da TV ou algo do tipo?
Não, porque a partir do momento que aquela pauta é aprovada e começa a ser produzida, entende-se que ela faz parte da da linha editorial daquele programa, daquele daquele jornal, às vezes, a gente tem alguma história que eu que a gente enxerga que daria uma boa matéria de 10 minutos, então, uma matéria de 10 minutos não cabe num jornal diário, então, caberia para um programa semanal. A gente oferece os assuntos, se a direção do programa, os editores chefes, acharem interessante, esse assunto vai ser desenvolvido. Então, a partir do momento que aquela pauta já é aprovada, entende-se que faz parte da linha do programa. O que acontece muitas vezes é a história não desenvolver do jeito que a gente esperava, ou a história tem alguma reviravolta no meio do caminho, por exemplo, um caso que me perturbou muito, do Lázaro, foi uma cobertura muito desafiadora, porque as coisas mudavam o tempo inteiro, uma matéria que iria, por exemplo, no domingo, ela teria que ser atualizada várias vezes até chegar no domingo. Aconteceu uma coisa na terça, a matéria tinha que ser modificada na quarta. Achava que estava tudo OK, na quinta aconteceu mais alguma coisa, você tinha que fazer mais. Nesse sentido também teve alguns casos que ao longo do processo de produção, entendeu-se que que a matéria ou já estava velha, ou aquele assunto já tinha esfriado e naquele caso a matéria caía, o que que é muito comum de acontecer em em qualquer veículo de comunicação. Mas é isso, pessoalmente, nunca passei por nenhuma situação dessa.
Você diria que essa matéria do Lázaro que você citou, foi a mais desafiadora para se fazer?
Não. Foi uma cobertura intensa, foi uma cobertura pesada, por conta do deslocamento, a gente estava a 160 km de Goiânia. tinha que ir e voltar todo dia. Era basicamente na beira da estrada, no meio do mato, então era uma cobertura difícil por conta das condições, mas foram várias outras coberturas também desafiadoras. Não dá para se dar uma, mas a morte da Marília Mendonça foi uma cobertura muito difícil. O serial killer de Goiânia foi uma cobertura extremamente difícil também, porque a gente estava lidando com vítimas, com famílias, então com muita dor acontecendo com uma cobertura muito difícil, teve a pandemia, é, com certeza a cobertura mais desafiadora foi a pandemia, foi uma cobertura que durou mais ou menos uns 2 anos, muitas pessoas de home office, alguns comércios fecharam, durante alguns meses, a gente nunca parou. Tinha que acompanhar as histórias, as coisas que estavam acontecendo na cidade e ao mesmo tempo preocupados com a gente, com as nossas famílias e acompanhando a dor de pessoas que precisavam de um respirador, um leito de UTI e a gente tentando ajudar da melhor forma, Hoje pensando bem, a cobertura mais desafiadora foi da pandemia, porque foi uma cobertura muito longa, uma cobertura muito difícil, com equipes reduzidas, porque nós temos também funcionários do grupo de risco.
Quais os desafios que você mais encontra hoje?
Hoje eu não sei assim, hoje as coisas estão muito mais simples, não consigo enxergar novos desafios assim. Vou te citar alguns exemplos. Antes para eu chegar numa pauta, eu tinha endereço e a gente tinha um mapa ali no carro, sabia mais ou menos chegar no bairro, mas tinha que descobrir qual era a rua. Então você tinha que sair perguntando ali para o motoboy para alguém que tivesse na praça, qual que era a rua, qual que era a quadra, isso levava um tempo muito grande da gente. Depois com o tempo surgiu o GPS, a localização do WhatsApp, esse é um desafio, por exemplo, que a gente não tem mais. Até pouquíssimo tempo atrás eu decupava escutando e escrevendo, palavra por palavra, vírgula por vírgula, inclusive as cacoetes, tudo. E isso também era muito desafiador. Hoje, por exemplo, a gente consegue fazer um link de qualquer lugar do mundo usando uma mochila com de internet. Há, não muitos anos, 10 anos atrás, para fazer um link, precisava de um caminhão gigantesco, precisava de comprar sinal por satélite, muito caro. Eu não sei se é porque eu peguei essa transição, essa mudança de tecnologia, mas eu não consigo enxergar dificuldades, eu consigo enxergar só as facilidades que surgiram ao longo do uso.
Como você acha que, principalmente, essas empresas maiores já consolidadas se adaptaram a essa questão das redes sociais, por exemplo, e de toda a evolução da tecnologia?
A internet não é o futuro mais, a internet é o agora e a internet é o amanhã. já tem algum tempo que que os veículos de comunicação entenderam que hoje não se fala mais em emissora de televisão ou uma emissora de rádio ou uma web TV. Hoje tudo é multiplataforma. O nosso conteúdo, claro, é exibido na TV aberta, porque a emissora surgiu como TV aberta, mas o nosso conteúdo hoje é multiplataforma, ele também é publicado nas redes sociais, ele também é publicado no YouTube, no R7. Isso dá um alcance muito maior, por conta da internet, o nosso conteúdo chega no mundo inteiro, diminuiu muito as fronteiras. Acho que todas as emissoras, todos os veículos já perceberam que a a internet é um grande aliado, é um desafio, claro, porque é algo que o tempo inteiro está acontecendo, mudando, surgindo coisas novas, mas é um grande aliado, com certeza trouxe muita agilidade agilidade para o nosso trabalho.
Com as redes sociais, também vem junto a nova geração que já cresceu com a rede social. Como que você tem visto esses jornalistas que chegam da nova geração?
Olha, acho ótimo, tenho contato com com os estagiários, essa galera que nasceu depois dos anos 2000, que hoje tá com 18, 19, 20, 20 e poucos anos, é uma galera que já nasceu conectada. A minha geração é a geração da transição. Peguei o analógico, mas peguei o início do digital. E essa galera mais nova tem muito mais facilidade com lidar com aplicativos, com lidar com celular, com lidar com edição, com a linguagem da da internet. Eles conseguem fazer coisas, por exemplo, que às vezes um funcionário mais velho teria mais dificuldade, ou levaria um pouco mais de tempo, e eles fazem com uma agilidade absurda, acho que isso é muito interessante os estagiários aprenderem com a gente na rotina de uma emissora de televisão, a fazer um texto de televisão, a editar uma matéria e a gente também aprendendo com eles como lidar com essas novas tecnologias, com essas novas linguagens, é uma troca muito bacana.
Gostaria de saber qual que é a sua sensação de ter conseguido chegar até onde você chegou, ter saído de onde você saiu e ter conseguido chegar nesse patamar que está hoje.
Tenho muito orgulho da minha da minha trajetória. Eu ralo muito, ralei muito, continuo ralando muito e modesta a parte assim, acho que eu fiz e faço muito bem, tento trabalhar de forma ética, tento dar voz as pessoas que encontro pelo caminho, que confiaram em mim, a responsabilidade de contar a história delas, levo isso muito a sério, porque quando alguém topa te receber em casa, topa falar com você, você está recebendo a missão de contar a história daquela pessoa e levo isso muito a sério. Tento sempre contar da melhor forma possível, deixar elas orgulhosa do meu trabalho, porque o meu trabalho é baseado ali na história delas. Modestamente, já contei grandes histórias, mas sempre digo que a melhor matéria é a próxima. Eu não fico me apego. Até claro, tem algumas matérias que marcam mais, mas a melhor matéria é sempre a próxima, porque o jornalismo é uma profissão que na minha opinião você está sempre melhorando.
Tem algum recado para dar para os jornalistas em formação? Os principais conselhos que você acha que cada um deveria ouvir antes de começar.
Sempre falo isso para todo estudante que conversa comigo. Não seja só mais um, porque o curso de graduação não garante. O mercado de trabalho mudou muito, hoje não é só vinculado às empresas, você pode produzir conteúdo de forma independente, isso é perfeitamente possível. Mas se você quiser se destacar na vida profissional, como produtor de conteúdo independente ou trabalhando nos veículos de comunicação, Não fique apenas restrito ao que acontece na faculdade. A faculdade é uma fonte absurda de conhecimento, aproveite ao máximo, os professores, os amigos que você vai conhecer na faculdade. Sempre falo isso, fiz grandes amigos na faculdade e grandes amigos que são colegas de trabalho, são profissionais que eu admiro até hoje. Aproveite desse ambiente, mas não fique só nisso, aproveite para aprender mais um ou outro idioma. Isso algo é algo fundamental na nossa profissão. Aproveite para aprender novas habilidades, quando eu falo em novas habilidades, por exemplo, digo o seguinte, eu estava fazendo faculdade e fiz um roteiro desse documentário que a gente fez de cinema ambiental. Não era algo que era fundamental ali pro pro meu curso. Não estava na minha grade curricular, mas eu fui atrás de outras coisas, coisas novas, de disciplinas fora da minha área. A partir disso eu eu fiz o filme, ganhei o filme, eu acho que para minha vida profissional foi muito importante. Se você tiver a oportunidade de aprender uma nova habilidade, uma nova aptidão, não deixa essa oportunidade passar. Tentar absorver o máximo de conhecimento possível ali na faculdade e fora dela também. Falaria isso, a pessoa ver tudo que for possível.