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Filho de professora aposentada do ensino público, Anderson Borges da Cruz não chegou a completar o ensino médio e se inseriu no mercado de trabalho aos 11 anos de idade. Ganhou o apelido de “Manim” da irmã mais velha quando ainda eram crianças e nunca mais deixou de ser chamado assim. Hoje, o empresário do ramo da indústria metalúrgica, concilia a vida particular, a presidência de um grupo solidário e o mandato de vereador que vai de 2020 a 2024.
Com uma trajetória voltada para o povo há mais de 25 anos, através de projetos sociais e ações voltadas para a inclusão por meio do esporte, Manim foi escolhido para ocupar uma das 20 cadeiras na Câmara Municipal de Trindade. A campanha vitoriosa lhe rendeu 1.254 votos, sendo o quarto mais bem votado da cidade, garantindo uma das duas vagas destinadas ao Partido Social Democrático (PSD). Durante os dois anos de atuação frente ao serviço público, o vereador já garantiu mais de 1 milhão de reais em emendas para a reforma de escolas, contratação de profissionais na área da saúde, além da revitalização de quadras poliesportivas e áreas de lazer.
Lab Notícias: Bom, Anderson, vou começar te perguntando: Qual foi o caminho que te levou para a política? Algum fator te motivou ou sempre foi um sonho?
Anderson Borges: “Eu comecei a me envolver com a população desde muito cedo, mas nunca imaginei que seria candidato, muito menos eleito. Não tenho parentes na política, sou o primeiro da família. Comecei uma ação social há cerca de 25 anos, distribuindo brinquedos para crianças carentes no natal e nunca mais parei. As pessoas da minha região passaram a me conhecer por causa disso, sempre tentei ajudar as pessoas como eu podia.
Hoje, aliado ao mandato, sou presidente de um grupo solidário que presta apoio a quem nos procura, o ‘Grupo Solidariedade Deus é Mais’. Somamos mais de 50 membros, fazemos distribuição de brinquedos, de cestas básicas, realização de exames, apoiamos atletas da cidade, a missão sempre foi ajudar. A política veio para somar nesse projeto”.
Como foi o processo da campanha eleitoral? Em algum momento você pensou que não fosse dar certo?
“O tempo todo (risos). Eu me candidatei pela primeira vez em 2016, fui super bem votado e não me elegi por causa da coligação. Fiquei como suplente e hoje entendo que aquele não era o momento. Tive mais quatro anos para trabalhar o meu nome. Eu sempre fui o ‘Manim’, mas me tornei o ‘Manim do Esporte e da Solidariedade’. Minha região de atuação é a Leste de Trindade, mas consegui trabalhar de uma forma que também fez com que eu obtivesse votos no centro.
Isso é muito complicado, a atuação dos vereadores, querendo ou não, é dividida pelos bairros. Eu não posso e não tenho abertura para pedir votos em um bairro onde outro candidato domina – da mesma forma, ele tem esse receio de ‘chegar na minha área’. Pelo menos aqui em Trindade, é tudo muito dividido, a equipe que atua lá no centro, não atua cá. A região Leste sofre muito mais em relação à falta de infraestrutura da prefeitura”.
Você me disse que não obteve sucesso em 2016 mas que mudou a estratégia para 2020. Qual a virada de chave para que você se elegesse?
“Eu não sou o melhor para falar com você sobre estratégias, mas a verdade é que o candidato precisa de pessoas que entendam de política ao lado dele. Ninguém consegue sozinho. Em 2016, eu entrei em um partido grande que não me deu apoio e eu não tinha gente preparada.
Você precisa de uma equipe, o marketing mesmo é pelo menos 50% do processo. Os eleitores lembram de você pela sua música que toca na rua, pelas suas figurinhas que divulgam no Whatsapp, pelo movimento das suas redes sociais. As crianças foram essenciais na minha campanha, nós fizemos um jingle ‘chiclete’ e caricaturas minhas lutando karatê, jogando bola, dançando – tudo bem lúdico, para chamar atenção mesmo – e elas pediam para os pais votarem no ‘Manim do bonequinho’. É um conjunto: uma parte do trabalho é presencial, na andança e visitas, e outra parte é divulgação, principalmente na internet. Minha campanha foi em plena pandemia, então o contato com as pessoas foi mais complicado. É preciso descobrir qual o seu tipo de eleitor e qual a melhor forma de conversar diretamente com ele”.
Um vereador eleito deve trabalhar para todos e, por isso, precisa da maior quantidade possível de votos. Quando você diz “converse com seu tipo de eleitor”, o que você quer dizer?
“É muito difícil um candidato que tenha uma campanha que abranja todas as áreas. Todos têm uma área pela qual lutam ou se destacam mais. As minhas principais são a do esporte e das ações sociais, é o que tenho propriedade para falar. Na eleição deste ano de 2022, a Silvye Alves, que foi a deputada federal mais bem votada em Goiás, tinha o foco voltado para a luta contra a violência à mulher, não tinha porque ela priorizar os direitos do agronegócio, por exemplo, na sua campanha. Os públicos são diferentes, consequentemente, a maneira de me comunicar com eles também. Não que eu não tenha que me preocupar com temas que não são do meu entendimento, mas existem candidatos focados nesses âmbitos. Eu não acho certo querer entender mais de Educação Pública do que um professor que atua na área”.
O vereador é a voz que o povo tem dentro da Câmara Municipal. Qual é o sentimento em ser escolhido como um representante da população de uma cidade?
“É uma responsabilidade tremenda. A cobrança vem do povo e também do pessoal. As pessoas me param na rua para fazer reclamações, pedidos e eu tento escutar todos, mas é impossível atender todo mundo. Tudo precisa passar pela Câmara, fazemos o ofício e ele precisa ser aprovado pela maioria no plenário. Trindade, hoje, tem quase 100 mil habitantes, as medidas precisam ser benéficas para todos. Se uma pessoa me pede para colocar uma lombada na rua dela, por exemplo, eu preciso consultar os outros moradores e ver se eles concordam.
A gente ainda tem que lidar com a prefeitura barrando alguns ofícios, ora por falta de verba, ora por terem outras prioridades. Agora, no final de ano, eles deram prioridade de gastos para a iluminação de Natal – o que impossibilita, por exemplo, a compra de massa asfáltica. Em Trindade nós somos 20 vereadores, um não consegue trabalhar sozinho e nem pode, muito menos sem apoio do Executivo. Tem que ter um jogo de cintura muito grande”.
E como é essa rotina? O que, de fato, faz um vereador?
“Nossa forma de atuar é fiscalizando. Tem colegas que preferem ficar a maior parte do tempo no gabinete, eu prefiro ficar na rua. Tento visitar obras sendo realizadas na cidade, conversando com as pessoas e ouvindo demandas. Eu recebo o pedido, passo para minha assessoria, os pedidos são escritos e levo para o plenário. As sessões ordinárias ocorrem uma vez na semana, onde os requerimentos são apresentados, votados, negados ou aprovados. Precisamos estar à frente nos eventos que acontecem também. Por exemplo, inaugurações de obras, lançamento de campanhas, campeonatos esportivos, essas coisas. A parte do gabinete itinerante é escolha de cada vereador, ele decide se quer ou não manter uma relação mais próxima da população para além do plenário”.
Muita gente não conhece as autoridades da própria cidade e isso acontece porque, na maioria das vezes, essas autoridades não são acessíveis para com o povo. Na sua visão, de quais formas a população pode entender e participar efetivamente dos processos do Legislativo Municipal?
“Nós temos muitos canais onde as pessoas podem estar por dentro do que acontece na Câmara. Muita gente não sabe, mas as sessões ordinárias são abertas ao público – quem quiser, pode assistir presencialmente. Além disso, no caso de Trindade, tudo é transmitido ao vivo pelo canal da Câmara no Youtube e na página do Facebook. Está correndo até um projeto para que as transmissões aconteçam também em um aplicativo, facilitando ainda mais o acesso. O cidadão pode saber o que foi ou não aprovado, quem votou contra e quem votou a favor, tudo o que circula na Câmara. Tem também o Portal da Transparência, não só da Câmara como da Prefeitura, onde são exibidos todas as licitações e gastos públicos que saem do nosso orçamento, desde a conta de água até o salário de cada servidor, tudo pode ser consultado lá.
É como eu disse anteriormente, a internet é a ferramenta mais importante desde a campanha até o cumprimento do mandato. O cidadão pode cobrar tudo não só pelas páginas da Câmara, como nas individuais de cada vereador e no site da prefeitura. Nós somos pessoas politicamente expostas, é normal que isso ocorra”.