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O termo poder de compra, na prática e sem rodeios, remete à capacidade da população de trocar o seu dinheiro por bens ou serviços. E, segundo a premissa do capitalismo, para “merecer” esse dinheiro, é preciso trocar o seu tempo e energia, fornecendo mão de obra. E no fim do dia, quem faz as compras mensais ou semanais percebe que, cada vez mais, menos se reclama do peso das sacolas de plástico nos pulsos ao voltar para casa – e isso, não é nem um pouco bom. 

Nas ciências econômicas, apesar de um processo mais complexo para determinar com precisão qual o poder de compra x de uma sociedade y, a fórmula mais simples que podemos exemplificar é o cálculo do valor total de uma economia pelo número de habitantes. 

O Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC) é o responsável por produzir o chamado Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Diretamente ligados ao  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),  o portal institucional detalha que o objetivo do IPCA é de “medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias”. 

Os resultados das pesquisas conjuntas de tais órgãos resultam na medição dos preços de produtos, como alimentação e transporte,  podendo então gerar uma taxa compreensível da inflação. Falando de dados, o de 2018 da inflação foi de 3,75%, e em março deste ano, já alcançava 11,30%, pouco mais de três vezes maior. Essas taxas ajudam, ou não, a explicar porquê o leite custa mais que a gasolina atualmente, onde os preços dançam respectivamente em R$8 e R$5,70 o litro.

E além do “economiquês”? 

Entender todo o processo dos cálculos e órgãos envolvidos no processo é importante, porém, não é necessário para entender o que grande parte da população sente de forma tangível:  o poder de compra do brasileiro diminuiu, e não foi pouco. Viver hoje é para a classe média, pois para quem recebe um salário mínimo, o desafio é sobreviver.  

Analisando então, a atual conjuntura, em consulta à pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), foi apontado que 10 produtos da tradicional cesta básica — composta por 13 itens — estavam mais caros em relação ao mesmo mês do ano passado (maio de 2021/maio 2022). 

E, também em consulta a pesquisas vinculadas ao IBGE, a alteração de produtos que integram a dieta do brasileiro, como o leite longa vida, teve alteração que paira entre R$4,29 (2021) – R$7,25 (2022), considerando o preço médio. O óleo de cozinha, não muito diferente, dançou entre o já alto valor de R$9,60, para ser encontrado atualmente em até R$16,81.

E, honestamente, não vamos entrar no mérito das carnes, ovos e outros laticínios. O básico, com os valores de produtos “base” na dieta alimentar do brasileiro, consegue indicar como está pior o resto. Pensar que o leite se encontra em uma valorização maior que a da gasolina, responsável por inúmeras manifestações e protestos no governo Dilma, é no mínimo, preocupante.

Daqui para a frente, só para trás 

E mais: se piorar, melhora. Considerando o panorama, quem recebe um salário estável, ou conta com uma renda per capita maior que um salário mínimo por residência, a queda brusca do poder de compra afeta mais drasticamente as pessoas que têm rendimentos menores que esses, não possuem um salário formalizado ou estão desempregadas.

A insegurança alimentar voltou a ser uma realidade, já que Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que 61,3 milhões (de uma população estimada em 213,3 milhões segundo o IBGE) sofrem de insegurança alimentar em algum nível. E 15,4 milhões enfrentam ou enfrentaram nos últimos anos o mais alto nível de insegurança alimentar. 

Quem é o culpado? Ora, quem mais podemos culpar além do governo? E quem o governo pode culpar além do aumento disso, daquilo do coronavírus, das relações internacionais, das relações interespaciais, da exploração de marte, e até mesmo, da própria população? No fim, não temos culpados, e não temos punição: mas temos um poder de compra baixo, que resulta, em um ponto principal, em fome e nutricídio.  

Não é fácil ser pobre no Brasil. Não é fácil ser brasileiro. Não está sendo fácil, e não sabemos se vai ser. Mas podemos sonhar, como a cachorra baleia sonhou com os preás, em quando iremos sentir a dor nos pulsos com o peso de sacolas de plástico após gastar uma rara nota de R$100, e transformar essa pauta em ambiental, e não mais, de poder de compra.

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