Indústria Têxtil Brasileira: entenda os panoramas do setor que cresceu mais de 20% nos últimos anos

De empregabilidade ao compromisso com o Meio-Ambiente, a Indústria Têxtil é um dos setores que mais gera lucro para a economia nacional
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Com dois séculos de existência, a produção de roupas, tecidos e algodão no Brasil, de acordo com a pesquisa realizada pela Inteligência de Mercado- IMEI, e divulgada pelo relatório da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e Confecção- ABIT em 2022, gerou R$190 bilhões no ano anterior. Além de um crescimento superior a 20% nos últimos anos.

A protuberância desse setor não enquadra-se numa questão necessariamente histórica, posto que há uma gama de polos de moda espalhados pelas unidades federativas do país. Destacando regiões promissoras ao negócio, como Santa Catarina, confecções cearenses e a região da 44 em Goiânia

“Hoje a 44 possui aproximadamente 100 galerias, e possui em torno de 13 à 14.000 lojas na região. Atualmente é considerada um dos maiores centros atacadistas do Brasil. Ou seja, pode ser considerada o segundo maior centro atacadista do Brasil, perdendo somente para São Paulo.”, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias e Confecções de Roupas de Goiânia, Edilson Borges, sobre a magnitude da indústria da moda goianiense.

Galeria Mega Moda, região 44 em Goiânia/
Via: Reprodução- Mega Moda

Tal fato também vincula-se , de acordo com o relatório da ABIT, ao Brasil possuir a maior cadeia produtiva têxtil do ocidente. Desse modo, a produção de moda, empregabilidade e abastecimento interno e externo é um dos principais compromissos da Indústria.

“Devido a grande expansão da região da 44, a contribuição é muito grande! Se considerar as milhares de lojas só de emprego direto há aproximadamente 30 mil empregos sólidos. E  ao analisar todo panorama têxtil goianiense hoje há mais 140 mil pessoas trabalhando para manter as confecções de Goiânia.”, continua o pioneiro da indústria têxtil goianiense, Edilson, sobre a geração de empregos ocasionada pelo ramo.

Gênero e empregabilidade:

A produção de elementos de vestuário vai muito mais além de uma questão econômica, hoje, a moda brasileira gera oportunidades e visibilidades às mulheres, já que, a ABIT afirma que o cenário é composto por 60% de mão de obra feminina

“Se considerarmos os trabalhadores da indústria têxtil e de confecção, a participação das mulheres é de 60%. Levando em conta apenas o segmento deconfecção, o índice alcança 75%. Sabemos que muitas das mulheres que trabalham no setor têm um papel financeiro relevante nas suas famílias.”, afirma a Assessoria de Comunicação da ABIT, em relação ao mercado de trabalho feminino na Indústria de Confecções.

A inclusão feminina dentro da indústria não situa-se exclusivamente a predominância de costureiras e modelistas, atualmente marcas nacionais buscaram alternativas que torna a produção fashion mais social, como a participação do processo produtivo de detentas.

A marca Thear, a qual faz parte da grade de marcas participantes do São Paulo Fashion Week e da Casa dos Criadores, foi uma das pioneiras ao inserir mulheres detentas na produção de moda em Goiás, nomeando a iniciativa como “Tecendo a Liberdade”. Na época, em 2019, juntamente à Diretoria da Penitenciária Feminina Consuelo Nasser, aquelas mulheres puderam emergir numa produção afetiva de tecelagem, o tear. 

Processo de tecelagem na penitenciária Via: Reprodução – Thear Vestuário

“E nesse sentido foi muito interessante, né? Elas entenderem que o que elas faziam estava incluso num processo de moda, e que sim! Se eu tenho material e inserir o design, eu consigo trazer uma visibilidade diferente que vai além! Não perdendo o fator artesanato e ao mesmo tempo sendo um trabalho social. Então isso é muito potente.”, comenta o diretor criativo e estilista da marca Thear, Theo Alexandre, sobre a iniciativa social. 

E ao ponderar sobre empregabilidade feminina não pode ignorar as turbulências que há dentro desse viés, posto que, de acordo com a Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EPGE), indica que quase metade das mulheres, cerca de 48%,  perdem seus empregos devido à gravidez.

Portanto, nota-se a necessidade de alternativas que tornem o mercado de trabalho inclusivo e flexível à realidade feminina, visto que falar de inclusão é a necessidade de adoção de medidas públicas e internas que  estimulem a permanência de mulheres em seus cargos

Desse modo, grupos de moda nacionais, como o Grupo Morena Rosa, conscientizarem-se da importância da manutenção trabalhista digna. “A gente tem um projeto chamado ‘Primeiros Passos’, também um projeto que atinge  todos os colaboradores, onde a pessoa que tem um filho de até dois anos e meio recebe uma bonificação no salário para poder ajudar nesses primeiros passos do filho.”,  comenta a coordenadora de comunicação do Grupo Morena Rosa, Bárbara Fernandez, sobre a medida adotada pela empresa. 

Sustentabilidade & Moda:

Ao falar de produção industrial, também fala-se sobre a produção de resíduos, ou seja, em poluição. Desde a Revolução Industrial, a qual emergiu perante ao cenário têxtil inglês, as indústrias vêm poluindo o meio ambiente a partir de descartes, contaminação de solo , da água e também de emissões de gases poluentes. Assim, a Indústria Têxtil também se enquadra nesse panorama poluidor, sendo a segunda mais poluente, perdendo somente para o petróleo.

De acordo com dados disponibilizados pela ABIT, juntamente ao IMEI, em 2021, houve a produção de 8,1 bilhões de peças no ramo de confecções no ano. Logo, nota-se não somente o esplendor produtivo, quanto também a grande quantidade de resíduos oriundos dessa produção. 

“Há no Brasil empresas que utilizam, há muitos anos, os resíduos como matéria-prima para produtos que retornam à indústria têxtil como fibras e fios reciclados bem como para outras indústrias servindo, por exemplo, como enchimento ou tecidos de isolamento para o setor automotivo.”, declara a Assessoria da ABIT sobre formas sustentáveis da Indústria Têxtil.

Assim, marcas conscientes como: Thear, e o Grupo Morena Rosa, lançaram-se no mercado ecológico fashion em prol de uma produção consciente. 

“É sempre pensar como empresa e indivíduo qual é o meu papel social com relação a isso, né? Então cada vez mais olhar com muita atenção! Então pensar e buscar ações internas para separar e destinar corretamente esses resíduos , como também pensar em tecnologia e em materiais que são biodegradáveis, os que são reaproveitáveis . A gente fez uma campanha com a Iódice Jeans , a produção desse material com zero água no processo de lavanderia.”, continua a jornalista Bárbara Fernandez sobre a preocupação  do grupo com a sustentabilidade.

Coleção sustentável que utiliza não água na lavagem/ Via: Reprodução – Iódice

Eu trabalho com fibras naturais. Então eu comecei com 100% algodão, depois passei para para outras fibras na viscose e linho. Enfim, sempre com esse aspecto das fibras naturais. O porquê disso? Porque quando a gente pensa na roupa exposta ao Meio Ambiente você trata de vida natural! Ela vai se decompor com maior facilidade no meio ambiente ao ser descartada de forma correta, o qual é um dos que um dos grandes problemas da indústria. Busco sempre usar o mínimo de materiais sintéticos dentro de minhas criações.” , discorre o estilista Theo, sobre o processo produtivo consciente do Thear. 

Peças produzidas a partir da tecelagem de fibras naturais/ Via: Reprodução – Thear

Entretanto, medidas conscientes e sustentáveis não são majoritárias. Dessa maneira, se medidas climáticas não forem tomadas perante ao quadro poluente da indústria têxtil o Meio Ambiente entrará em colapso. Isso recorre-se ao fato de que em 2018, de acordo com pesquisas realizadas pela Fashion on Climate, com parceria da McKinsey and Company, mostra que a indústria global da moda produziu cerca de 2,1 bilhões de toneladas de emissões de gases poluentes no ano, o equivalente a 4% do total global. E caso medidas não sejam instaladas haverá um aumento anual de 2,7% ao ano até 2030.

Deserto do Atacama, cemitério de Roupas/ Nicolás Vargas

Logo, pensar na indústria têxtil é preciso também buscar soluções que tornem essa indústria sustentável, bem como social. Assim, possibilitando um diálogo mais coerente entre a  geração de lucro e empregabilidade  com os  princípios humanitários e ecológicos. 

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