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JESSICA VALERIO

Por estes dias, um colega ao me encontrar em um restaurante fez a seguinte pergunta:

– Como está sendo morar sozinha?

– Agora eu tenho paz, sempre quis viver esta experiência! Respondi, sem entrar em detalhes.

Menti? Não, mas o questionamento curioso fez um filme passar em minha cabeça por
alguns minutos. Hoje, refletindo melhor, considero incompreensível como a nossa mente
jovem e imatura consegue idealizar cada coisa, deve ser este o motivo de tantas falhas e
erros cometidos nos estágios iniciais da vida (Freud explica, né?!)

“Estou morando só agora é só alegria, farra lá em casa rola quase todo dia” (isso mesmo, a
música dos sertanejos Henrique e Juliano) foi a idealização do meu pensamento quando
decidi ir morar sozinha e assim surgiu uma animada ilusão, a qual confiei.

O passar dos dias me demonstrou de forma nua e crua que não existe ilusão diante da
força da realidade, por vezes ela é cruel demais. No último dia 05, paguei o aluguel e lá se
foi mais da metade do meu salário. Chegaram as contas de energia, água, internet com o
vencimento para o dia 10, e não tinha ninguém para dividir os custos. As louças sujas na pia
ficam imóveis, do jeitinho que eu deixei, infelizmente. Há dois dias uma amiga veio me
visitar para conhecer meu novo lar e tudo que eu pude oferecer foi água e/ou miojo. Minhas
manhãs não são mais preenchidas com uma doce voz dizendo “Bom dia” ou “Quer tomar
café?”

Morar sozinha tem sido uma escola de responsabilidade. Não é difícil perceber que a magia
de ter um lugar só nosso inclui a tarefa de pagá-lo e mantê-lo arrumado e funcional.
Também não há ninguém para dividir as tarefas domésticas, gastos e boletos, então somos
forçadas a aceitar a adultez de frente. Em alguns momentos, sentimos saudades de alguém
para compartilhar essas tarefas, contas e momentos, mas a independência conquistada é
um prêmio valioso e lá se passa o tal do sentimento.

No início a solidão é um companheiro constante. O silêncio é mais profundo, os cômodos
mais vazios. Mas, gradualmente, os traços de solitude são substituídos pela sensação de
paz, que também tem seu preço. Na noite anterior, enquanto eu dormia senti uma dor
bastante intensa na panturrilha, gritei por socorro e claro, não tinha ninguém para me ajudar
ou buscar um remédio. E assim veio a chuva de pensamentos aleatórios: se ninguém me
ligar e eu simplesmente decidir ficar presa no meu cubículo de sei lá quantos metros
quadrados, é capaz que eu esqueça como é minha própria voz? Liberdade ou solidão? E se
eu morrer aqui sozinha por causa de uma dor na perna? Ri de mim, destes pensamentos e
daquela doce ilusão de como é morar sozinha.

E pasmem! Até hoje não consegui realizar a tão idealizada sequência de farra em casa.

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