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Coletividade. Como dita o dicionário, “grupo mais ou menos extenso de indivíduos que possuem interesses comuns”. Não precisam ser cinco, sete, ou quatro: apenas um é o suficiente. Por exemplo: o de se deslocar de um ponto a outro por um preço mais acessível. Foi daí que nasceu o transporte coletivo.
Num dia de sorte, é uma coletividade tímida, silenciosa. Se estiver ouvindo uma boa música como Outside da banda Staind, é até pacífica. O problema é que, em dia de semana, é uma loteria compor um cenário assim. Em Goiânia, o transporte público recebe mais de 510 mil passageiros por dia, então é mais provável que a sua coletividade seja muito calorosa, talvez até um pouco fedorenta.
Foi numa circunstância como essa, apreciando a sinfonia cuidadosamente composta pelo choro de criança mimada, velhinhas reclamando da sujeira do assento e um bêbado gritando “ABRE AÊ, MOTORA!” sem precisar descer do veículo, que eu estava voltando para casa.
Quando meus fones de ouvido não funcionam bem, prefiro não ouvir música. O que me resta então, estando no ônibus, é observar as pessoas. Especificamente, o que elas fazem no celular. É uma aventura. Já descobri um triângulo amoroso prestando atenção nisso: a moça estava traindo seu namorado com um motorista de ônibus. Descobri o instagram dos três e até hoje planejo uma revelação, mas isso é história para outra crônica.
Dessa vez, quem me chamou a atenção foi uma senhora. Ela, distraidamente, navegava pelos vídeos curtos do YouTube shorts. Receitas mirabolantes com muito queijo, alguém dando dicas de etiqueta, futebol, princesa Diana, fofoca da Choquei… Princesa Diana? A senhora volta no vídeo anterior.
O vídeo, que a velhinha sentada no mais confortável dos assentos preferenciais viu até o final, tratava de uma teoria da conspiração sobre a morte da princesa, evento ocorrido há quase 26 anos atrás. Impressionante. O que leva alguém, naquela coletividade calorosa, a se interessar por uma teoria sobre uma morte que ocorreu a quase 9 mil km de distância?
Aqui, há dois pontos de interesse: a multiplicidade de personalidades e histórias que podem coexistir num transporte coletivo e a forma como a internet é capaz de pescar você da sua realidade e te levar ao local intangível que é a reflexão por meio de pequenas ou grandes distrações. Para isso acontecer, não são necessários cinco, sete, ou quatro minutos. Pode ser bem menos. Pode ser o tempo de leitura dessa crônica. Eu te levei para o ônibus comigo sem te tirar daí.
Agora, a pergunta que não quer calar: será que aquele acidente levou mesmo a princesa Diana? Talvez a resposta esteja no próximo shorts, no celular da próxima velhinha, no próximo 574.