A simbologia do cordão girassol e do quebra-cabeça – entrevista

O cordão girassol é um símbolo institucional que ganha importância na identificação de deficiências ocultas, assim como o cordão do quebra-cabeças identifica o transtorno do espectro autista (TEA). Comumente utilizados para sinalizar necessidades especiais, esses símbolos desempenham um papel crucial na criação de ambientes de compreensão e mais inclusivos.
jan 22, 2024 ,
Tempo de leitura: 4 min
ANA JÚLIA MENDES
Andy na “Feira das Minas”, com sua loj
Andy na “Feira das Minas”, com sua loja de camisetas personalizadas.
(Imagem: Reprodução/Instagram – @yayanascimento_)

Deficiências ocultas são aquelas que, apesar de não possuírem indícios físicos claros, impactam cotidianamente a vida de seus portadores, como por exemplo, o transtorno do espectro autista (TEA). Sendo assim, diante de perspectivas mais ignorantes e que se fecham para esse tipo de realidade, a pessoa com uma deficiência oculta é alvo de constantes ataques e discriminações.

Evidentemente, os direitos dessa camada da sociedade não dependem do uso de um cordão, que se faz opcional e não substitui o documento comprobatório de deficiência, mas é um avanço na promoção de empatia com aqueles que as possuem.

A artista Andy, de 24 anos, conversou com a redação e contou um pouco do seu dia a dia. “Tenho diagnóstico de TDAH desde os 4 anos, TOC, TAG e depressão desde os 14, além de autismo desde os 18. Uma coleção de deficiências invisíveis!”.

Apesar da forma bem-humorada de lidar com a vida, o cenário é complicado. Muitas vezes, ela sofreu preconceito simplesmente por ocupar assentos preferenciais, os quais são um direito de pessoas neurodivergentes e atípicas — que estão no espectro autista, por exemplo. Para entender mais sobre o assunto confira, a seguir, a entrevista completa de Andy:

Labnotícias: Vamos começar com uma descrição sua, para te conhecer melhor.

Andy: Andy, 24 anos, sou artista, mas, atualmente, trabalho no caixa de um mercado grande que acho melhor não divulgar (risos). Tenho uma página sobre autismo que está meio inativa porque estou sem celular, mas o nome é @autiedafavela. Já comecei faculdade de dança e música, mas, por conta da falta de acessibilidade, acabei desistindo. Sou apaixonada por teatro musical e sou LGBT.

Labnotícias: Há quanto tempo você utiliza o cordão TEA? Como chegou na decisão de usá-lo?

Andy: Uso há aproximadamente 3 anos e comecei a utilizar porque sofria muita discriminação nas filas e assentos preferenciais.

Labnotícias: É necessário acompanhamento médico e/ou a autorização formal de especialistas para uma pessoa começar a usá-lo?

Andy: Não é necessário laudo médico pra usar o cordão, mas é interessante ter o diagnóstico. Junto ao meu cordão, tem um crachá com informações pessoais, alergias, medicações, contatos de emergência e um QR Code que dá acesso ao meu laudo.

Labnotícias: Que tipos de impactos utilizar o cordão causou na sua vida? Seja um impacto emocional, na sua rotina ou em geral.

Andy: Emocionalmente falando, me sinto muito mais livre pra “autistar” por aí sem medo de me julgarem (por mais que eu saiba que, no fundo, estão julgando). Me sinto mais leve e não me importo tanto. No dia a dia diminuiu um pouco o preconceito, porém poucas pessoas sabem o que significa, tanto o girassol quanto o de quebra-cabeça. Eu uso um meio a meio e, sempre que posso, conscientizo alguém sobre o significado desses símbolos.

Labnotícias: Quanto ao preconceito, você já passou por constrangimentos em público, por exemplo em filas, acessos e atendimentos preferenciais? Se sim, você já fazia o uso do cordão?

Andy: Várias vezes, tanto usando o cordão quanto sem usar. Já perguntaram se eu estava grávida ou se eu sabia que a fila era preferencial. Muitos idosos discutem comigo em ônibus e eu geralmente tento ser compreensiva, explicando os meus motivos de estar ali.

Labnotícias: Tendo passado por constrangimentos tanto com quanto sem, você acha que os cordões do girassol e do quebra-cabeça ajudam a prevenir o preconceito?

Andy: Com certeza sim, mas gostaria que houvesse mais informação disponível sobre isso. Por exemplo, cursos que explicassem para as pessoas e os funcionários de empresas o que os cordões significam e como todos devem agir nessas situações.

Labnotícias: Na sua visão, qual é a importância dos cordões?

Andy: Acho extremamente importante pois é uma forma de identificação e reconhecimento para pessoas com deficiência invisível. Já cheguei a fazer amizade com algumas pessoas porque elas perguntaram do meu cordão ou eu do delas, ou aquela amizade de olhar quando passa por alguém que também está usando, sabe? Além de chamar atenção de todos para algo que não está explícito, faz com que se crie uma dúvida sobre os cordões (do que eles se tratam), provocando maior conscientização social.

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