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Reconhecida pela primeira vez pelo British Journal of Psychiatry (Periódico Britânico de Psiquiatria), da Universidade de Cambridge, no ano 2000, a Tocofobia é um transtorno de ansiedade caracterizado pelo medo irracional de engravidar e do parto. Apesar de não haver consenso, estima-se que esse distúrbio afeta de 1 a 5% de mulheres em idade reprodutiva.
Primária X Secundária: Entendendo as diferentes classificações
Além de reconhecer a tocofobia pela primeira vez, o estudo da Universidade de Cambridge identificou e classificou o distúrbio em duas categorias:
Primária: aquela que se manifesta em mulheres que nunca engravidaram, e
Secundária: que se manifesta em mulheres grávidas com medo do parto.
Como esse transtorno se manifesta?
O medo irracional de gestar surge e se manifesta de diferentes formas, variando de paciente para paciente. Segundo Danyelle Amorim de Lima Pires, médica ginecologista e obstetra, os principais sintomas são: “quadros de taquicardia, falta de ar, náuseas, tontura e, em casos mais graves, desmaios”, após relações sexuais, mesmo com o uso de proteção.
As consequências da Tocofobia
O distúrbio apresenta diversas complicações para as mulheres que têm o diagnóstico, sendo essas muito variadas. “As mulheres com Tocofobia podem deixar de trabalhar, abandonar familiares, e alguns casos podem evoluir para depressão”, afirma Danielly. Ainda segundo a médica, muitas mulheres que sentem vontade de engravidar desistem de gestar devido ao pânico que sentem.
Ademais, segundo o presidente do Conselho Regional de Psicologia de Goiás, Wadson Arantes, a tocofobia secundária gera ainda mais problemas, uma vez que “pode prejudicar o vínculo entre a mãe e o bebê, e aumentar o risco de complicações obstétricas e neonatais”.
Além disso, diversas mulheres ainda combinam diferentes métodos de contracepção, como a pílula anticoncepcional e a pílula do dia seguinte, sem necessidade. O bombardeamento do corpo com hormônios tem consequências negativas, que variam de mulher para mulher.
Causas que levam à Tocofobia
Por se tratar de um transtorno muito recente, são poucos os estudos e pesquisas que ditam sobre as especificidades do problema. Assim, não existem consensos sobre os motivos que levam à tocofobia, mas para a Dra. Danielly a falta de informação e traumas são os principais fatores que podem causar o surgimento do distúrbio.
De acordo com Wadson, “experiências – traumáticas – podem gerar sentimentos de culpa, vergonha, medo, impotência e desconfiança, que interferem na percepção e na preparação para a gestação e parto”, evidenciando que a ansiedade e medo de gestar surgem a partir de algum gatilho.
Em redes sociais, o debate sobre os métodos contraceptivos e “gravidez acidental” se tornou recorrente, acarretando no crescente compartilhamento de informações falsas, ou até mesmo incompletas, que também criam gatilhos para a manifestação da tocofobia.
O tratamento
A tocofobia não está incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID), portanto não existe um protocolo de tratamento específico. Entretanto, Wadson alega que: “O aconselhamento psicológico pode ajudar a mulher com tocofobia a expressar os seus sentimentos, esclarecer as suas dúvidas, receber informações e apoio”, o que alivia os sintomas e consequências do distúrbio.
Ademais, quando a tocofobia está associada a um evento traumático: “A terapia pode ajudar a abordar essas questões subjacentes, permitindo que a mulher processe e ressignifique as suas memórias, recupere a sua autoestima e a sua autonomia, e construa uma relação de confiança com os profissionais e com o seu corpo”, afirma.
Experiências pessoais
Camila tem 22 anos e foi diagnosticada por sua ginecologista com tocofobia. Segundo a jovem, ela nunca imaginou que sua relação ansiosa com sua sexualidade e sensualidade, se tratava não apenas de uma preocupação, mas na verdade de um distúrbio mais sério. “Contei para minha médica os métodos contraceptivos que usava – na época, anticoncepcional associado com pílulas do dia seguinte – e que também evitava ao máximo ter relações para evitar qualquer ‘acidente’, e ela me surpreendeu quando me diagnosticou com a tocofobia”, afirmou.
A garota ainda contou à redação que fez uso de duas pílulas do dia seguinte em um período de apenas três dias, prática desencorajada por médicos e especialistas da saúde.
Hoje, ela faz acompanhamento recorrente com sua ginecologista, psicólogos e psiquiatra, seguindo as recomendações profissionais para superar o problema.