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Em um momento contemporâneo bastante complicado no que diz respeito à credibilidade dada ao jornalismo, principalmente aos éticos e àqueles que buscam pela veracidade e pelos valores jornalísticos, afinal, a falta de credibilidade parece uma constante injustiça, não? Mostra-se bastante complicado a convivência entre o jornalismo sério e aquele que busca, de maneira bastante incisiva, trazer assuntos mais próximos da fofoca, dos burburinhos e até mesmo da invasão de privacidade, distanciando-se do pilar informativo da profissão.

Nos últimos dias de junho, foi quase impossível não ouvir falar do caso da atriz que teve sua vida invadida e exposta de forma bastante deturpada por profissionais que se dizem jornalistas e são aclamados nesses status. Todavia, esse, que não foi o primeiro caso envolvendo jornalistas em pauta, trouxe à tona novamente a questão: até que ponto o jornalismo deve ir? Deve existir ou impor-se limites?

A liberdade de expressão é assegurada segundo o Artigo 5º da Constituição Federal. Entretanto, segundo o mesmo artigo, é assegurado também a indenização do indivíduo que tiver sua privacidade violada nesse trajeto da liberdade de expressão. Mas acredito que caiba aqui uma reflexão bem maior do que essa. Que indenização é paga a ponto de se rescindir constrangimento e exposição? Ou, ainda além: existe indenização que repare danos profundos no intelecto, no psicológico e até mesmo que afetem o convívio de uma pessoa?

É justificável tamanha violação em nome da liberdade de expressão, como prevê o Artigo 5º, e de imprensa, como também está previsto na Constituição de 1988, e em nome do jornalismo que se coloca como justo, honesto e transparente? Além disso, de um jornalismo que se propõe como informativo e auxiliar em uma formação de opinião, quiçá caráteres?

Talvez a resposta possa vir diretamente da nota oficial da própria Federação Nacional de Jornalistas, a FENAJ, que repudiou o caso em questão, além de colocar em cheque a criação de um conselho que auxilie no controle de profissionais que degradam a profissão jornalística. Além, é claro, de ferirem o Código de Ética da profissão, como citado pela Federação em sua nota, ao divulgarem informações que vão contra a privacidade de Klara Castanho como uma cidadã e também ao publicarem fatos contrários aos valores humanos.

Talvez não haja motivos que justifiquem casos como o acontecido com a atriz Klara Castanho, assim como não se justificam tantos outros momentos em que o jornalismo foi usado como um guarda-chuva para anti-profissionais da área violarem a privacidade e a vida de pessoas de modo geral. Em um momento tão complicado para o setor, com uma constante desvalidação da profissão, onde é possível vermos casos de violência contra jornalistas executando seu trabalho, quando até mesmo aquele que ocupa a cadeira mais alta do poder estatal desdenha e debocha do trabalho feito pelos jornalistas em suas apurações, a última coisa de que se precisava para jogar outra pá de terra em cima do jornalismo ético eram comportamentos escusos de jornalistas antiéticos.

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