Masculinidade Tóxica: O agressor não passa ileso

Como a masculinidade tóxica gera danos ao próprio homem. Uma discussão histórica, política e cultural.
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A masculinidade tóxica se relaciona com os feminicídios brutais, com o machismo na política, o individualismo, a violência nas sociedades e com os danos nas relações dos próprios homens. Relações elaboradas a partir de questões históricas, políticas, econômicas e culturais, com efeitos em todas as interações sociais, em diversos espaços. 

O livro “Seja homem: a masculinidade desmascarada” (Dublinense, 2020) do autor e poeta inglês J. J. Bola, traz experiências vividas pelo próprio autor, mostrando que a construção e conceito do masculino é antiquado, cercado de estereótipos, além de ser prejudicial aos homens, tanto fisicamente como psicologicamente. 

Foto por: Amazon

Trecho do livro:  O patriarcado é uma trama que se estende pela família, pelo sistema educacional e pela mídia de massa. Ele socializa os comportamentos, atitudes e ações dos homens, dizendo a eles como devem agir, se sentir e se comportar em todos os aspectos das suas vidas, especialmente em relação às mulheres, mas também em relação aos outros homens. O sistema do patriarcado é algo que impacta as vidas de homens e mulheres, atuando desde o nascimento até a infância e seguindo pela vida adulta e por aí vai, de maneiras às vezes aparentemente simples, como as cores que devem ser usadas – o azul para os meninos e rosa para as meninas –, os tipos de roupas ou os brinquedos com os quais as crianças devem brincar. Toda esta ordenação tem uma repercussão significativa na maneira como a masculinidade é vista dentro da sociedade, e como os homens e as mulheres interagem entre si. ( J.J. Bola, 2020).

O Professor associado de Antropologia, na Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da Universidade Federal de Goiás (UFG), graduado em Ciências Sociais, mestre em Antropologia Social e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Camilo Albuquerque de Braz, reflete sobre a atuação do comportamento masculino na sociedade contemporânea:

“Se partirmos da reflexão sociológica sobre masculinidade hegemônica, temos a concepção de que esses ideais normativos a respeito da performance de gênero masculina são virtualmente inalcançáveis por quaisquer sujeitos, muito embora seus efeitos sejam percebidos de forma mais visceral nas vidas daqueles cujos corpos e subjetividades são marcados por dimensões como sexualidade, raça, classe”.

“Nesse sentido, muitas pesquisas mostram como esses ideais normativos, para ganharem alguma materialidade, necessitam ser reafirmados em todos os contextos e reiterados o tempo todo, o que inclui muitas vezes situações de violência”, conclui Camilo Braz.

CONCEITOS

Não pode-se definir masculinidade tóxica apenas como um conjunto de estereótipos considerados ideais para um homem. O conceito de masculinidade não é algo fixo, parte de questões históricas, tanto políticas, sociais e culturais, é algo que está em constante mudança, é um processo que varia durante toda a evolução humana. 

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Psicóloga graduada pelo curso de Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFPA, Yukimi Mesquita, aborda como o termo masculinidade tóxica é descrito na contemporaneidade: 

O conceito de ‘masculinidade tóxica’ surge como uma crítica ao conjunto de comportamentos considerados intrínsecos ao exercício de uma masculinidade socialmente validada, amparada em um ideal viril, supostamente capaz de garantir a superioridade dos homens na hierarquia de gêneros. A ‘toxicidade’ referida compreende o potencial insidioso da agressividade com a qual se tenta garantir a posição superior na hierarquia de gênero, e que pode atingir os próprios sujeitos que a exercem, tanto quanto as demais pessoas com as quais se relacionam, ‘envenenando’ os laços aí estabelecidos.” 

Foto por: Mundo da psicologia

Hevellyn Corrêa, Professora na faculdade de Psicologia e no Programa de Pós-graduação em Psicologia, doutora em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também discorre como a masculinidade faz parte da constituição do sujeito em relação ao inconsciente humano: 

“Aquilo que hoje caracterizamos como masculinidade tóxica faz parte da própria constituição do sujeito, de subjetividades que são atravessadas por perspectivas de masculino e feminino que são anteriores ao sujeito e o alcançam, isto não significa ser complacente com atitudes violentas, mas considerar que não se pode falar de sujeito sem, igualmente, pensar a cultura na qual a masculinidade é construída e, uma vez que é uma construção, pode passar por mudanças.” 

CONSTRUÇÃO DO MASCULINO 
Foto por: Contrafatual
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Simone de Beauvoir, filósofa francesa, existencialista e feminista escreveu “O segundo Sexo” em 1949. A autora redefine as atribuiçoes dado ao sexo feminino pela sociedade convervadora, como a de que mulheres são frágeis e de que nasceram para servir ao homem, esclarecendo que essas definiçoes eram usadas para subjugá-las ao decorrer da história. Para Beauvoir, a construção do indivíduo, a visão, o entendimento de mundo e de si próprio, são concepções construídas ao longo do tempo, através das experiências sociais e culturais. Não é a partir do nascimento que possui-se essas concepções, e sim com o processo de socialização. No caso dito pela autora no livro, as mulheres estavam sendo ensinadas sobre seus papéis na sociedade, para que o indivíduo masculino pudesse perpetuar sua “dominância”.

 Yukimi Mesquita também esclarece os conflitos desencadeados pela construção do masculino: 

“A partir de uma ótica psicanalítica, é possível considerar as perturbações contemporâneas na esfera do masculino, expressa na violência e na agressividade contra si e contra os outros, por exemplo, como um processo sintomático originado a partir de um aspecto social problemático e na tentativa de emergência de conteúdos e pulsões reprimidas pelo contexto civilizatório – dos quais é possível indicar a fragilidade e vulnerabilidade, tão extensivamente renunciada pelos sujeitos homens, como exemplo”.

DETERIORAÇÃO AO PRÓPRIO HOMEM
Foto por: Gazeta Gospel

A questão da masculinidade tóxica é bastante elucidada em como ela violenta e inferioriza qualquer pessoa que se identifique com o gênero feminino, através do machismo, por exemplo. 

Mas uma questão pouco abordada é a relação do próprio agressor com as consequências desses comportamentos. A construção, os comportamentos e as relações do indivíduo viril, podem gerar danos físicos e mentais para os homens?  Pode-se estabelecer uma influência nos modos de agir e nos relacionamentos do homem perante a sociedade? 

A psicóloga Yukimi Mesquita, explica como os comportamentos que podem ser danosos à vida do homem: 

“A agressividade decorrente desses comportamentos, indicada como capaz de ‘envenenar‘ as relações de sujeitos reconhecidos como homens, pode ser responsável por produzir isolamento e prejudicar a busca por ajuda, o que acaba por exercer uma grande influência no adoecimento psíquico destes”.

“Vale ressaltar que a própria experiência humana presume a vulnerabilidade como um de seus componentes, de maneira que a virilidade exigida nesse contexto demanda uma fabricação dessa masculinidade, que sempre pode apresentar alguma falha, produzindo frustração e a demanda por uma auto vigilância constante. É possível afirmar, portanto, que na busca por uma potencialidade irrefreada e total, o corpo masculino passa por um processo de distanciamento da própria condição humana, o qual os engendra em uma batalha constante contra si mesmos e contra a fragilidade que os espreita”, conclui a psicóloga.

Foto por: TOM PUMFORD | UNSPLASH

Podemos enumerar vários dados que comprovam os danos sofridos pelos homens por esses comportamentos. Em 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é evidente que os homens têm uma expectativa de vida menor do que as mulheres. O IBGE relatou que a expectativa de vida da população masculina chegou a 72,2 anos e a feminina atingiu 79,3.

ESPECTATIVAS DE VIDA PARA HOMEM E MULHERES NO BRASIL EM 2015
Foto por: IBGE

Outro pensamento popular comprovado, é de que os homens sofrem mais acidentes que as mulheres. Segundo estudo recente da Unicamp, encomendado pela empresa ZigNET, entre os meses de junho de 2021 e 2022, foram registrados 183% mais colisões de motoristas homens do que de mulheres.

 No total, o sexo masculino somou 192.643 ocorrências, contra apenas 68.039 das mulheres. Na faixa entre os 18 e 24 anos, os homens sofrem aproximadamente 217% mais acidentes do que as mulheres. É nessa faixa etária onde o sexo masculino registra, também, o maior número de casos, com 143.199 contra 45.044 das mulheres.

Escritora, redatora e revisora de textos, além de psicanalista em formação e graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, Isabela Talarico fornece dados específicos e exemplifica os detrimentos dos comportamentos do individuo masculino: 

“Em 2022, tive acesso a uma série de estudos sobre a influência da masculinidade tóxica para escrever um artigo que publiquei no portal eCycle. Um deles, conduzido por pesquisadores da Columbia University, nos EUA, concluiu que homens com crenças mais fortes na ‘masculinidade inerente’ apresentavam 50% menos probabilidade de procurar serviços de saúde preventivos do que indivíduos do gênero masculino com ideias mais flexíveis sobre o que é ‘ser homem’.

“Outro estudo, realizado por estudiosos do Department of Counseling, Developmental and Educational Psychology do Boston College, também nos EUA, descobriu que quanto mais os homens se identificam com a masculinidade tóxica, maiores são as chances de que eles se envolvam em comportamentos de risco – como beber em excesso, fumar e se alimentar mal. Além disso, segundo a Associação Americana de Psicologia, concepções equivocadas do ideal de masculinidade – “homem não chora”, por exemplo – também põem a saúde mental dos homens em risco. Tais crenças, quando enraizadas no indivíduo, podem levá-lo a recusar ajuda em momentos de vulnerabilidade, como estresse, depressão e abuso de substâncias, entre outros. As consequências podem ser desastrosas e acarretar diversas complicações para a vida dessas pessoas e de suas famílias – incluindo, em casos extremos, o suicídio“, conclui Isabela.

Em relação ao suicídio, os homens também estão entre as principais vítimas, muito mais em proporção às mulheres. Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), 78% dos casos de autoextermínio em 2019 tiveram homens como vítimas. Já as mulheres somam 22%.  

CONSEQUÊNCIAS
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O ideário de “masculinidade” opera em uma sociedade contemporânea, onde a homofobia,  violência de gênero, machismo e o feminicídio perpetuam-se. Essa cultura, gera casos de violência em vários âmbitos, na família, escola e trabalho, por exemplo.

Esses casos de violencia não limitam-se apenas para casos como o estupro e o femenicídio, mas tambem violências que ocorrem no cotidiano, falas desrespeitosas, agressões verbais e assédios psicológicos são exemplos desses comportamentos. 

Camilo Braz também discorre sobre os comportamentos  e as violências praticadas pelo indivíduo homem: 

“Pensar sobre violência é sempre algo bastante complexo, que envolve variadas formas de relação social, em contextos muito variados. No campo das ciências sociais e no campo dos estudos de gênero, um conceito que foi muito utilizado nas últimas décadas é o de masculinidade hegemônica, que leva em consideração as distintas formas como, em contextos históricos, sociais e culturais específicos, são criadas certas expectativas normativas a respeito das masculinidades produzindo assim o campo das masculinidades subalternas, em geral por meio de práticas que interseccionam as masculinidades a desigualdades baseadas em outros marcadores da diferença, como raça, etnia, classe, sexualidade, idade, escolaridade, renda, dentre outros”.

Foto por: Getty Images

Já a escritora Isabela, atribui os comportamentos do homem com a naturalizaçao e perpetuaçao do machismo na sociedade. 

“ Como tudo o que se refere ao universo feminino, numa sociedade machista, é tido como inadequado, indesejável e insignificante, a tendência é que meninos cisgênero [indivíduo que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu] e heterossexuais encarem mulheres e membros da comunidade LGBTQIAPN+ como seres inferiores, que merecem ser subjugados, agredidos e humilhados porque não fazem parte da “casta elevada” à qual eles pertencem”

“O machismo está tão arraigado na sociedade que acabamos naturalizando situações de violência contra mulheres e LGBTQIAPN+, porque, inconscientemente, não os enxergamos como seres humanos “normais”, dignos de respeito”, afirma Isabela.

NA POLÍTICA

A Cultura do machismo influenciado pela masculinidade tóxica, gera comportamentos machistas desde o ambiente familiar até na política. A masculinidade tóxica está presente na política brasileira e isso pode afetar a sociedade, visto a predominância masculina dos representantes políticos do País.

Video: Canal The Intercept Brasil

“O “machismo” pode ser considerado uma das expressões da demanda do exercício da violência e da virilidade para a sustentação da performance masculina como intrinsecamente ligada ao poder, um desdobramento do exercício de domínio masculino na tentativa de garantir a superioridade masculina na hierarquia de gênero”, explica Yukimi Mesquita sobre as relações que a cultura do machismo estabelece também na política. 

Segundo dados da  Inter-Parliamentary Union – uma associação dos legislativos nacionais de todo o mundo – no Brasil, pouco mais de 10% dos deputados federais são mulheres. O país ocupa o 154º lugar entre 193 países do ranking elaborado pela associação, à frente apenas de alguns países árabes, do Oriente Médio e de ilhas polinésias.

Isabela Talarico também discorre sobre a falta de participação das mulheres na política e dos seus precedentes: ”No Brasil, do século XX até aqui, conseguimos conquistar maior participação feminina em espaços de poder, bem como políticas públicas e leis voltadas para a proteção e a emancipação da mulher. No entanto, os homens ainda constituem a maior parte dos nossos representantes, e muitas das mulheres que se ocupam da vida pública compactuam com a perpetuação do machismo em virtude de crenças e valores individuais. Estamos dando passos de ‘formiguinha’ nesse sentido. 

“Além da baixa representatividade feminina, um fator determinante para a manutenção da mulher e de outras minorias como “cidadãos de segunda classe” é a influência da fé cristã na política brasileira, representada sobretudo por autoridades de algumas igrejas evangélicas”, conclui a escritora.

Falas do ex-presidente Jair Bolsonaro como : “Sou Imbrochável” , “Seria incapaz de amar um filho homossexual” e “Não iria te estuprar porque não merece” refletem na cultura machista da sociedade brasileira, principalmente na política. 

A fala proferida por Bolsonaro, durante o ato de celebração do bicentenário da Independência, gerou repudiamentos da população e também de políticos. Na época, antes dos períodos de eleições em 2022. A candidata do MDB à presidência da República, a senadora Simone Tebet, usou o Twitter para rotular as falas e o comportamento do então presidente Jair Bolsonaro como machistas.

REPRESENTAÇÕES NA ARTE

A masculinidade é representada de diversas formas na sociedade conterporânea, uma delas são livros, fimes e documentarios sobre a mascunidade e os comportamentos nocivos dos homens.

Vencedor de Melhor Filme e Melhor Direção do Globo de Ouro e líder de indicações (12) ao Oscar 2022, “Ataque dos Cães” dirigido por Jane Campion, mostra ao público sobre o impacto da masculinidade tóxica nos homens e na sociedade, prejudicando a eles mesmos e os outros ao seu redor. 

Benedict Cumberbatch em “Ataque dos Cães”. Foto: Divulgação/Netflix

O documentário “O Silêncio dos Homens” discute como a cultura estereotipada da masculinidade se impõe sobre os homens e meninos, levando ao silenciamento deles.


Foto por: Papo de Homem

O documentário está disponível gratuitamente no Youtube .https://youtu.be/NRom49UVXCE

Uma série recente produzida pela Netflix em 2022 aborda masculinidade tóxica de uma forma diferente. “Machos alfa” é uma comédia espanhola disponível na plataforma digital, que mostra quatro amigos em plena crise de meia-idade que decidem tentar se atualizar e deixar de lado velhos conceitos, desconstruindo o próprio machismo.

Foto por: Reprodução Netflix

Quando o assunto é representação da masculinidade na arte, não podemos deixar de fora um dos maiores clássicos cult da história do cinema. “Clube da Luta” é uma representação metafórica da masculinidade tóxica.

Foto por: Home Box Office 

Dirigido por David Fincher, o filme lançado em 1999, aborda de forma irônica, como os homens lidam com os próprios problemas e os estresses do cotidiano. Na obra, a solução para esses problemas é a criação de um clube, onde dois homens lutam até um deles desistir ou perder a consciência, uma forma de exaltação da masculinidade, o “clube da luta”.

Trecho de Clube da Luta – Canal Captain Darrow
 COMO LIDAR

Enfrentar os comportamentos tóxicos e o machismo na sociedade não é uma tarefa fácil, principalmente para as principais vítimas desses comportamentos, como as mulheres e a comunidade LGBTQIAPN+.

Foto por: Carta Capital

A complexidade de como os homens precisam superar cada uma de suas questões pessoais e a tentativa de superar suas respectivas falhas, além de lidar com estereótipos que reforçam esses comportamentos, reflete nas raízes sócio históricas e culturais da construção do ser masculino.   

A professora Hevellyn Corrêa estipula os meios para lidar com tais comportamentos: Acredito que diferentes movimentos podem ser feitos para lidar com a masculinidade em seu caráter violento e insidioso, e isto requer diferentes atores: saúde, direito, educação, comunicação, psicologia, enfim, Estado e sociedade civil como um todo; para promover ações que vão desde a tipificação de certos atos, tidos como “comuns”, como crimes – como a lei Maria da Penha -, até a educação que promova debates sobre o que é “coisa de menino” e “coisa de menina”, e as consequentes reações diante do curto espaço entre uma coisa e outra”.

Por fim, ela diz que não existe uma resposta última do que pode ser feito: “Cabe a constante busca por saídas possíveis, assim como a manutenção do comportamento tóxico também é feita por diferentes atores. O que podemos afirmar é que a colocação em debate e interrogação, no mínimo, retira os comportamentos tóxicos de uma suposta naturalidade; acredito que mais do que respostas, nos cabe fazer perguntas àquilo que aparentemente já estava respondido por si próprio.”

Foto por: Getty Imagens

 A escritora Isabela Talarico também determina meios para enfrentar a masculinidade tóxica presente na sociedade: “Sei que é uma resposta clichê, mas, para mim, a chave para a extinção do ideal equivocado de masculinidade está na educação. E aqui falo não só da educação formal, transmitida nas escolas e universidades; falo, sobretudo, da educação familiar. É um círculo vicioso: crianças que foram condicionadas a manter determinados comportamentos tendem a deixar o que aprenderam como legado às novas gerações.”

REPENSAR E DISCUTIR

Quando a questão em foco é masculinidade tóxica, é extremamente necessário discutir em comunidades sobre o tema. Não apenas para evitar a deterioração da saúde mental e física dos próprios homens, mas para mudar o comportamento masculino, visto que tais comportamentos têm influência direta na vida das mulheres e da comunidade LGBTQIAPN+.

Foto por: Telavita

Os comportamentos masculinos, como evitar discussões sobre sentimentos, atitudes tidas como femininas, ou demonstração de vulnerabilidade, fazem parte de uma cultura machista, do que é ser homem.

Não falar sobre sentimentos, evitar atitudes tidas como femininas, fazem parte de uma ideia cultural do que é ser homem. Isabela Talarico declara como combater esses comportamentos, enfatizando o papel da internet e da era digital para esse fim: 

Eu, particularmente, acredito que só se combate um preconceito falando sobre ele. Falando muito. Enchendo o saco mesmo. Tem que falar nas redes sociais, em casa, no trabalho, na escola, na faculdade, na mesa de bar. Tem que cutucar.  E a boa notícia é que a humanidade está preparada para isso, hoje, mais do que nunca.”

A escritora também enfatiza o papel da educação familiar, esclarecendo que as crianças não têm preconceito, ressaltando que os adultos induzem elas a adotar comportamentos socialmente reprováveis, realçando o dever de educar desde a base da construção do ser humano.

Foto por: Nova Escola

Hevellyn Corrêa também acentua a importancia de se discutir a masculinidade tóxica, além de destacar o papel do próprio homem para combater a violência: 

Assim, se falamos de uma sociedade que perpetua violência de gênero, machismo, homofobia e feminicídio, devemos lançar nossos olhos tanto àqueles que perpetuam tais violências, buscando formas de punição e justiça que retirem a violência de uma naturalização, quanto aos ideais que constroem nossa sociedade” Ela eslcarce que como a contruçao do ser é cultural, é papel da sociedade como um todo, rever e atuar na possibilidade de outros ideais, menos violentos”.

“Acredito que a circulação pública do debate é algo de extrema importância, o que não significa uma saída fácil, já que vai gerar incômodos e não se faz de um dia para o outro. Por isso é importante permitir que homens se reconheçam como promotores de violências que alcançam outras pessoas e a eles mesmos, violências estas muitas vezes sequer são vistas como tais”, conclui Hevellyn. 

Já o professor Camilo Braz, define um papel importante das pesquisas científicas como um grande passo para repensar tais comportamentos: “Um passo importante para repensar o que vem sendo chamado de masculinidade tóxica, ou de machismo, é ampliar o acesso às pesquisas científicas que mostram como tais repertórios são produzidos e circulam em distintos contextos. Ampliar, assim, o acesso a um conhecimento que desnaturaliza os processos que produzem e reproduzem desigualdades sociais, por meio da análise crítica e interseccionada de marcadores como gênero, sexualidade, classe, raça, etnia, dentre outros”. 

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