Efeitos das altas temperaturas na saúde da população

Os brasileiros enfrentam dificuldades para lidar com as fortes ondas de calor frequentes no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a temperatura média do Brasil também está batendo recordes consecutivos. Os meses de julho, agosto, setembro, outubro e novembro foram os mais quentes desde o início das medições.
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À medida que o fenômeno do aquecimento global se desdobra a cada dia, há uma alteração profunda na dinâmica socioambiental do nosso planeta. As intensas ondas de calor deixaram de ser eventos sazonais e passaram a ser mais frequentes e prolongadas. Isto não é somente um desafio para o equilíbrio do meio ambiente, mas também para a saúde da população humana, que é afetada drasticamente através de um conjunto de consequências na integridade física. 

Foram avaliados pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os dados sobre as mudanças do clima observadas no Brasil nos últimos 60 anos. Os cálculos foram efetuados para todo o território brasileiro e consideraram o período de 1961 a 2020. Os especialistas estabeleceram 1961 a 1990 como período de referência, e concluíram que nele, o número de dias com ondas de calor não ultrapassava sete. Para o período de 1991 a 2000 subiu para 20 dias; entre 2001 e 2010 atingiu 40 dias; e de 2011 a 2020, o número de dias com ondas de calor chegou a 52 dias.

O Brasil, apesar de ser um território com diversidade de climas, não escapou dos efeitos das mudanças climáticas. Regiões que antes tinham climas mais amenos, agora são desafiadas com temperaturas extremas, e as implicações disso sobre a saúde dos cidadãos são cada vez mais evidentes. As ondas de calor têm se tornado mais constantes e intensas, e com isso os brasileiros precisam se adaptar ao “novo normal”.

Mudanças climáticas e o calor extremo

A relação entre o aquecimento global e o aumento da temperatura média do planeta não pode ser negada, visto que a maioria dos pesquisadores e especialistas a confirmam. A cada dia que passa, o nosso planeta é mais atingido pelas alterações na dinâmica climática mundial. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) vem realizando, ao longo dos meses, uma análise meteorológica específica para o Brasil, utilizando dados de temperatura média do ar de todo o território nacional.

De acordo com o estudo as temperaturas ficaram acima da média histórica nos meses de julho a novembro, como mostra a tabela abaixo:

Segundo relatório publicado no final de novembro pela a Organização Meteorológica Mundial (OMM), até outubro deste ano, a temperatura média da superfície global ficou 1,4°C acima da média de 1850/1900. Com este valor, o ano de 2023 é considerado o mais quente em 174 anos de medições meteorológicas, superando os anos de 2016, com 1,29°C acima da média, e 2020, com 1,27°C acima da média.

Desde o final do século XVIII, com a Revolução Industrial e a segunda metade do século XX, a produção industrial expandiu-se, o que aumentou significativamente as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera. Com isso vieram as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos, que estão associadas ao aumento da emissão de gases de efeito estufa por queima de combustíveis fósseis (dos automóveis e indústrias), queimadas, desmatamento etc. Acarretando no famigerado aquecimento global, que é, basicamente, o aumento da temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra.

Em conversa com Diogo Tarley Ferreira, geógrafo, doutor em climatologia e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), foi esclarecido que o fenômeno El Niño tem atualmente um pouco da parcela de culpa no calor extremo que estamos vivenciando. “O El Niño se traduz no aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico, então em razão da evaporação das águas marinhas, há uma influência na circulação da atmosfera, que vai resultar na alteração do clima em uma escala global. No Brasil, geralmente a região Norte e Nordeste ficam mais secas, Sul e Sudeste percebem maiores volumes de precipitação, mas o país como um todo fica mais quente”, disse o professor.

O professor afirma também que, esses extremos, seja através do frio, calor ou o volume de precipitação, geram impactos econômicos principalmente na produção agropecuária, a qual sofre prejuízos com a mortandade de rebanhos de gado e galináceos. Além disso, ele diz que “estiagens mais prolongadas, provenientes das mudanças climáticas, reduzem a quantidade de água nos reservatórios, causando problemas na disponibilidade hídrica e geração de energia elétrica.”

“É uma situação muito preocupante, pois o cenário apresentado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), aponta que os eventos extremos de temperatura serão cada vez mais intensos e frequentes para quase todo o Globo, assim como eventos de precipitação”, explicou o doutor Diogo Tarley sobre as projeções climáticas e expectativas em termos de intensificação dessas ocorrências.

Consequências para a saúde humana

Na condição climática atual em que o Brasil e o mundo se encontram, a população torna-se vítima de suas próprias ações. Isto pois, o aquecimento global é consequência direta da péssima maneira com qual tratamos o planeta. Além deste fenômeno, o El Niño também contribui para o agravamento da situação do clima, gerando alguns efeitos negativos no bem-estar dos seres humanos.

Estes, são em decorrência do aumento significativo da temperatura média global, e adoecem os grupos mais vulneráveis: idosos, crianças e pessoas com a saúde já comprometida. O corpo humano naturalmente têm uma temperatura interna de aproximadamente 36 graus. Ele reage ao estresse térmico causado pelo calor, iniciando uma série de adaptações para tentar manter a temperatura normal e resfriar o corpo.

Crédito: Foto de cottonbro studio

O suor é a primeira reação de um mecanismo natural de eliminação de calor, mas podem ter outras reações negativas. “As ondas de calor podem ser responsáveis por tontura, vertigem, fraqueza, sonolência, queda de imunidade, pressão baixa, e em casos mais extremos em idosos, pode levar ao quadro de confusão mental”, afirma o médico geriatra Cristhiano Holanda, mestre e doutorando em Ciências da Saúde e gerente médico do Hospital Estadual de Dermatologia Sanitária (HDS).

Os sistemas cardiovascular e respiratório ficam sobrecarregados, levando a um aumento nos casos de doenças cardíacas, respiratórias e cerebrovasculares durante períodos de calor intenso. Cristhiano diz também que “os idosos tem a tendência de diminuição da quantidade de água livre no corpo, em torno de 50% a 60%, diferentemente de adultos, que geralmente 70% da massa corpórea é constituída de água. Isso faz com que as ondas de calor afetem mais este grupo em razão da baixa ingestão hídrica, causando a desidratação”.

Em crianças e pessoas com comorbidades, os sintomas são semelhantes aos dos idosos e apresentam o mesmo índice de vulnerabilidade em relação às ondas de calor. Ademais, o gerente médico do HDS, informa em entrevista: “muitos colegas da medicina não correlacionam os sintomas de vertigem, tontura e queda de pressão com a desidratação, por vezes temos os pronto atendimentos repletos de pacientes (crianças e idosos) com estas queixas que recebem como tratamentos polivitamínicos e/ou medicamento para vertigem, sendo que na verdade não se trata disso, e sim desidratação por excesso de calor”.

Para se proteger, o corpo redireciona o fluxo sanguíneo, transportando o calor dos músculos para a pele. Esse processo exige mais força do coração, aumentando os riscos de ataques cardíacos e arritmias para pessoas com doenças cardíacas. Conforme nota da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO),no mês de setembro, 23 pessoas procuraram atendimento com queixas de exaustão, desidratação, insolação e desmaios relacionados às altas temperaturas.

As consequências das fortes ondas de calor também estão relacionadas com insolações, que é caracterizada pelo aumento da temperatura corporal, pele avermelhada e quente, pele seca, dor de cabeça, confusão, náuseas e desmaios. Estes sintomas requerem a hidratação imediata do paciente e observação e tratamento oferecido pelos médicos em unidades de saúde públicas (SUS).

Adaptação e mitigação

É fundamental que haja investimento dos órgãos públicos em sistemas de resfriamento em áreas urbanas excessivamente povoadas. Bem como, políticas de saúde pública direcionadas para educação e prevenção, que são essenciais para minimizar os impactos na população. O Ministério da Saúde disponibilizou um guia com algumas orientações básicas para prevenção de doenças causadas pelo calor extremo.

Dentre as recomendações mais relevantes, temos:

  • Evite a exposição ao sol, principalmente entre as 10h e 16h;
  • Use protetor solar;
  • Use roupas leves e que não retêm muito calor;
  • Aumente a ingestão de água ou de sucos de frutas naturais;
  • Ofereça água para crianças, idosos e pessoas doentes;
  • Mantenha ambientes úmidos com umidificadores de ar, toalhas molhadas ou baldes de água;
  • Busque ajuda se sentir tonturas, fraqueza, ansiedade ou tiver sede intensa e dor de cabeça;
  • Se sentir algum mal-estar, busque um lugar fresco o mais rápido possível e meça a temperatura do seu corpo e beba um pouco de água ou suco de frutas para reidratar.

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