Conheça a ONS, operador do sistema elétrico brasileiro

Da geração até sua utilização, a energia passa por vários estagio, e uma delas é desconhecida pelo grande publico, mas de importância vital para todo o Brasil
mar 25, 2024
Tempo de leitura: 6 min
Thiago Henrique Camargo de Oliveira
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Em agosto de 2023, o Brasil sofreu um apagão que atingiu todo o país e, durante a crise, a ONS foi muito questionada pela imprensa sobre a ocorrência, mas muitas pessoas ainda não têm conhecimento sobre o que seria ela e porque ela estava envolvida no caso.

 A reportagem entrevistou o gerente da ONS, Ronald Campos, para falar um pouco sobre essa atividade da empresa e sua atuação no Brasil.

LN – Queria que falasse sobre o sr e qual a sua relação com a ONS.

Eu me chamo Ronald Campos de Oliveira, natural de Goiânia e formado na Escola Técnica de Goiás, Mudei para Brasília em 1986 para trabalhar na então Eletrobras, em um projeto chamado centro nacional de operação do sistema, na época comandada pela Eletrobrás. Que na época era estatal. Importante ressaltar que a privatização da Eletrobras, que está muito em foco hoje, não tem relação com privatização da operação: a operação era uma atividade da Eletrobras, e um novo modelo do sistema elétrico criou uma entidade privada de direito público sem fins lucrativos, cuja função é garantir e a transmissão de energia elétrica no país

O que é a ONS e qual a sua importância no Brasil?

O modelo do sistema elétrico tem, ele vem se modificando ao longo do tempo, e assim como em outros países, você tem uma entidade que coordena a geração e transmissão de energia elétrica no país. O Brasil tem uma característica peculiar poque ele tem uma grande geração de energia, longe dos principais centros urbanos, e como a demanda é muito grande, temos que garantir a geração e a transmissão, para esses grandes centros. Com esse novo modelo idealizado na época, deslumbrava um operador independente onde pudesse garantir uma condição equânime entre os agentes do setor, seja de geração, transmissão, distribuição e consumidores livres [grandes empresas], como siderúrgicas.  

Qual sua função na ONS?

Hoje eu trabalho na área de relacionamento, fazendo a interface entre o setor e o atendimento ao país, a energia ela precisa ser gerada em uma localidade, é feito uma negociação entre a empresa que o cliente está vinculado, a empresa que o cliente compra a energia, ela compra a energia de uma geração, e é necessário investimento, seja em usina, rede de transmissão e garantir que energia chegue nas casas e empresas.

O que o senhor pode falar sobre o apagão que ocorreu em agosto de 2023 e como foi a atuação da ONS do caso?

Não posso entrar em muitos detalhes porque ainda vai ter um relatório oficial sobre o evento, mas sobre o papel do operador, o evento por volta de 8h30 da manhã, nós tivemos regiões menos afetadas, outras bem mais afetadas, e foi uma situação que fugiu do controle, foi um evento que afetou todos os sistemas, menos Roraima, pois Roraima tem um sistema isolado. O apagão ele tem custo e faz parte de um aprendizado, nas vezes anteriores, tivemos apagões pela insuficiência de fornecimento de energia, desta vez não, estamos com excedente de energia, estamos com recordes seguidos de geração de energia eólica. O problema é que energia não se guarda, a energia que é gerada ela tem que ser consumida, essa situação é curiosa porque não se faltava energia, tinha esse excedente, e o blackout vai trazer ensinamentos, motivar novos investimentos em sistemas de proteção, para que uma condição isolada não propague para o sistema.

Na sua opinião, qual foi a crise mais complicada que a empresa já passou?

A ONS fez 25 anos e, com uma semana de criação, tivemos um apagão que parou o país todo, e foi uma situação curiosa, porque foi uma única instalação do Estado de São Paulo que derrubou o país, e eu considero esse apagão o mais difícil porque ele ocorreu com uma semana após a criação do operador, e a imprensa ficou assustada porque ela não sabia que existia um operador independente para cuidar do sistema, apesar de existir a instituição, a infraestrutura era já existente e a gente ainda estava se organizando e parecia que o problema era por causa da empresa nova, mas isso não tinha relação.

Como senhor vê a importância da energia eólica no país? Até que ponto ela está auxiliando a distribuição de energia hidrelétrica?

Tivemos um crescimento da geração eólica e fotovoltaica, e a geração eólica no Nordeste tem um potencial gigantesco, só que, ainda tem uma questão, a gente não controla o tempo, então temos o que chamamos de energia garantida, que é aquilo que você tem certeza que pode contar, e a energia hidrelétrica potencial: o rio está lá, enquanto estiver com nível, ela está lá. A termoelétrica está lá, como ela é mais cara, ela fica desligada, mas se tiver algum problema, ela fica lá em standby. A geração eólica é uma nova fronteira que está sendo desmembrada. Ainda tem estudos para ver os efeitos dela no sistema, afinal ela é instável.  

Queria que o senhor falasse de como a situação climática no país pode afetar o sistema elétrico?

Existe o que chamamos de ponta de carga, que é o horário de maior consumo. Há muito tempo atras, era no período da noite, mas isso está mudando ao longo do tempo, o maior consumo hoje se dá por volta das 14h30, 16 horas da tarde, porque, ar-condicionado, e por culpa de quem? Clima.

Como o senhor vê o sistema elétrico hoje no Brasil, ele está bem preparado para enfrentar alguma crise, como apagões?

Isso está relacionado ao futuro, o futuro se mostra desafiador, temos uma visão complicada a nível de Brasil. Não gosto de pensar nas questões políticas, porque a questão política deixa que a pessoas deixa de pensar e olha somente nas suas convicções. O sistema está crescendo, existe influencias, interesses por exemplo em energia verde. A tendencia é investir cada vez menos em energia térmica, existe investimentos em ligar Roraima, e porque não pensar em América latina, o Brasil já tem interligação e supre energia na Argentina, Uruguai, Paraguai. Paraguai já usa 50% da energia gerada em Itaipu, temos fronteira com Venezuela, Bolívia, isso é negócio, podemos comprar ou vender energia, isso é negócio. Vejo também a necessidade de investimento em tecnologia, hoje conseguimos ver de Brasília, a carga em cada estado do país e em tempo real, evoluímos em tecnologia, telecomunicação e supervisão de sistema, melhorando a capacidade de atuação e porque não prevê? Vê como o sistema vai estar em alguns instantes para poder evitar outro apagão, é investimento. A energia é cara, mas é ela que garante o funcionamento das coisas, evoluir o país, atrair investimento, melhorar economia, o que significa mais consumo, mais ar-condicionado. Faz parte do ciclo.

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