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Nas primeiras duas temporadas, o resgate e a proteção de Grogu e a relação entre eles foram o foco central da trama, agora acompanhamos de perto um pouco melhor a respeito do passado de Din Djarin, bem como dos próprios Mandalorianos.
O Apóstata
O primeiro episódio consegue dar o tom de como a temporada vai se desdobrar e quais conflitos o protagonista vai enfrentar nos núcleos que compõem a narrativa da série. Após remover o seu capacete e dessa forma transgredir os princípios de seu povo, Din Djarin abdica de suas missões paralelas e até mesmo de uma vida tranquila em Nevarro e parte em busca de redenção dentro da doutrina Mandaloriana, que diz que o Mandaloriano que remover seu capacete, deve se banhar nas águas do antigo planeta Mandalore para alcançar seu perdão, mesmo que o planeta tenha passado por um Purgo e não exista mais da forma como existia antes.
Uma vez que essa problemática é apresentada, a criativa direção de Rick Famuyiwa (que além de diretor é também produtor executivo da terceira temporada) consegue trabalhar os elementos que a série já havia desenvolvido até aqui, ao mesmo tempo que prepara o solo de forma ousada, tanto para o que está por vir nessa história, como também para o que veremos em outras histórias do mesmo universo. Como, por exemplo, quando Grogu observa os Purrgil (ou pelo menos as suas grandes sombras) enquanto viaja pelo hiperespaço. A espécie havia feito sua primeira aparição em Star Wars Rebels e, uma vez que a série da Asokha Tano girará em torno da busca pelo jedi Ezra, não seria difícil imaginar que esses seres terão um papel importante nessa jornada, já que Ezra foi levado para algum lugar desconhecido na galáxia com a ajuda dos Purrgils, que são os únicos animais que conseguem saltar no hiperespaço sem ajuda de uma nave.
O ponto central do episódio é mostrar a dicotomia entre o comportamento de mandalorianos transgressores ao mesmo tempo que aponta as contradições que a seita fundamentalista coloca sob o jugo de seus adeptos, ora, se a única maneira de conseguir o perdão é se banhando nas águas de um planeta destruído, de que forma o transgressor pode retornar aos hábitos de sua crença e contribuir para a união daquele povo? É isso que descobriremos ao longo dos oito episódios da nova temporada.
A sequência da cerimônia de “batismo mandaloriano”, em que um grupo de Mandalorianos adultos passa a cultura para um jovem recém-iniciado na doutrina é bastante simbólica, pois no momento do juramento de não remover o capacete, a cerimônia é interrompida por um ataque de um leviatã que surge violentamente das águas. Apesar dos esforços coletivos, o que determina a salvação daquele povo é justamente o ímpeto de justiça de Din Djarin, a vontade de permanecer ajudando o povo que o expulsou, e claro, a sua nave com armamento suficiente para derrubar um monstro colossal.
Nevarro
Ao longo das temporadas, vemos o planeta evoluir de uma terra arrasada e campo de batalhas do que sobrou do império à uma comunidade próspera que determina sua escala de produção de acordo com o bem estar e a necessidade da própria população.
Na cena em que Mando chega na cidade, a decisão de colocar o espectador na perspectiva de Grogu nos permite explorar certas características da nova fase do local a partir da curiosidade genuína de uma criança. Desde cores mais vibrantes, espécies interagindo em comunhão, grafites nas paredes até cenários que remetem a uma arquitetura em transformação, toda a sequência de Nevarro nos entrega um tom mais intimista do planeta, algo que propõe a importância do local, tanto para o personagem como para os próprios moradores.
A sequência dos piratas não é mais do que uma forma de Star Wars brincar consigo mesmo e trazer uma boa perseguição de naves entre asteroides, todas as aparições dos piratas deixam a sugestão de um grande perigo, quando na verdade não é nada além de show off, uma boa oportunidade de mostrar o porquê a série leva o nome do personagem principal.
Bo-Katan
No reencontro entre Bo-Katan e Din Djarin, percebemos a maneira sagaz com que a direção nos leva a um embate ideológico entre dois transgressores das doutrinas de Mandalore. Se por um lado Din decide que sua redenção é parte de algo maior do que ele, quase beirando a radicalidade, por outro lado vemos que Bo-Katan compreende que o costume do capacete bem como a mitologia do sabre são apenas símbolos que não deveriam ter o poder de excluir alguém de sua tribo originária ao ponto de causar tamanha divisão, afinal, como ela mesma comenta, os mandalorianos que restaram ao seu lado, agora estavam espalhados pela galáxia trabalhando individualmente como mercenários. A essa altura, ainda que em espectros diferentes, Din e Bo estão vivendo ao mesmo tempo a consequência da perda de suas comunidades por conta de dogmas Mandalorianos.
A Noite das Mil Lágrimas, evento que ocorre o genocídio mandaloriano no qual naves do império foram usadas para bombardear o planeta, devastando cidades inteiras, pontos estratégicos e até mesmo locais sagrados, será um ponto fundamental na história de Din Djarin, bem como na história dos mandalorianos remanescentes.